GUIA 2025: Sem Hamilton, Mercedes precisa de novo CNPJ para sair da mediocridade na F1

Após 12 anos de Lewis Hamilton, Mercedes vive a perda violenta do astro que a guiou nos momentos mais brilhantes. Mas luto oferece chance de sair do limbo

Dentre todas as equipes do grid da Fórmula 1, a Mercedes é aquela que vive a situação mais estranha ao que construiu na última década. Depois de 12 temporadas ao lado de Lewis Hamilton, o heptacampeão mundial decidiu cortar laços e jogar a si próprio rumo ao desconhecido de um novo desafio a partir de 2025. À Mercedes, restam os cacos para recolher. Tanto os que a transferência criou quanto aqueles que já estavam espalhados aos montes pelo repouso das Flechas Prateadas. O luto da mudança forçada é também a chance de recuperar um caminho há algum tempo perdido.

Nos cinco estágios do luto da Mercedes, a escalada de sentimentos começou tem muito tempo. Afinal, foi há mais de um ano, antes mesmo dos carros irem à pista em 2024, que Hamilton anunciou que deixaria os alemães rumo ao solo Mediterrâneo da Itália. No primeiro estágio, a negação do que não se aceita. Toto Wolff, um dos donos da Mercedes para além de chefe de equipe e CEO, não podia crer que fora inicialmente avisado por terceiros e depois em curta conversa pouco antes do anúncio e sem ser personagem central. Por isso contou tantas vezes.

O segundo estágio é a raiva e nela a Mercedes resolveu sair atrás de Max Verstappen, o responsável por acabar com o reinado de si e de Lewis naquele até hoje dolorido 2021. Tentou daqui, tentou de lá, incomodou, falou publicamente e, por mais que estivesse claro que não sairia negócio, ocupou a cabeça e o coração para esquecer por um tempo que fosse da desilusão que se impunha.

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Lewis Hamilton deixou a Mercedes no fim de 2024 após 12 temporadas (Foto: Instagram)

No terceiro estágio, a negociação, restou a barganha. Ao ver um breve lapso de recuperação, com direito a vitórias no campeonato, a resposta rebelde que começou a sair à boca pequena pelo sistema de circulação de ar da garagem: é ele quem vai sentir falta da gente!

A depressão, estágio quatro, surgiu com as declarações de que a Mercedes já se preparava para um adeus a Hamilton de qualquer maneira e por isso assinara um contrato só até o fim de 2025 inicialmente. Pudera, um atleta de 40 anos está perto do ocaso! Na curva seguinte, estava uma resposta de Hamilton à revista mais lida do mundo. Mas é prosa para outro momento.

Agora, no estágio final: a aceitação. Sem Hamilton e, como já era óbvio, sem atrair Verstappen, terá o novato Andrea Kimi Antonelli ao lado para quebrar o status quo esperado para o campeonato de 2025: ser somente a quarta força da F1, atrás de McLaren, Red Bull e da Ferrari do ex. Em Russell, a Mercedes tem um piloto experiente embora ainda jovem que terá, pela primeira vez, a tarefa de liderar um time grande. Com Antonelli, a expectativa de lapidar uma joia que há muito tempo pinta como o próximo diamante da F1. E olha que tem apenas 18 anos, mas desde a mais tenra idade desfilava habilidade nas pistas de kart do mundo.

À parte em pequena porção no meio de 2024 e outra no fim de 2022, a Mercedes dos últimos três anos foi lar de uma mediocridade atroz, quase preguiçosa. O time que mais sofreu com os quiques do porpoising, o time que mais sofreu na insistência num conceito claramente mal aplicado, o time que mais vezes repetiu, ao longo de anos, que não entendeu os motivos que faziam o carro responder assim ou assado. Ficar longe dos títulos é do jogo no esporte, sobretudo numa F1 que, em tempos de poucos testes e confiabilidade alta, favorece a perpetuação de um pequeno grupo de vencedores e até grandes domínios. O que incomoda não é isso. É a incompetência de passar anos perdida.

Toto Wolff precisa encontrar caminhos para Mercedes retomar glórias (Foto: Marco Miltenburg/Racepictures)

A Red Bull assistiu a Mercedes conquistar sete Mundiais de Construtores e de Pilotos em sequência, entre 2014 e 2020, mas não se transformou num time incompetente. Esteve sempre por ali, às vezes com carros melhores, às vezes piores, por momentos pior que o da Ferrari e, em outros, como segunda força. Mas não desmantelou a cultura vencedora que construiu no fim dos anos 2000 e fez voar no começo dos anos 2010. Com a Mercedes, não: a sensação é que a filosofia vencedora deu lugar à cultura da digestão das grandes cobras, recheada demais com a caça mais recente para reagir. Virar presa é fácil consequência.

E o mais curioso, apesar da evidente impaciência interna e externa quanto à fase longa de desventuras, é que 2025 não será um ano de urgência. O senso de urgência da Mercedes está no chão. Como 2026 trará uma revolução nas regras, novos chassis, motores e combustíveis, a Mercedes já definiu que não vai negociar muito com 2025 e sua tecnologia obsoleta. Quando notar que não briga por caneco, o que sabe que vai acontecer e será percebido rapidamente, deixará 2025 de lado para trabalhar pensando no ano que vem.

O futuro talvez prove que a Mercedes está certa. Que a decisão de voltar as armas para 2026 deu frutos por anos a fio enquanto Ferrari, McLaren e Red Bull ficaram presas em 2025 e atrasaram. Pode ser. Mas um time grande, um time que conquistou não muito tempo atrás a maior sequência de canecos da história da F1, não pode se contentar com tão longa mediocridade.

É hora de recomeçar. Perder Hamilton não é bom, claro, mas tem de ser usado como um símbolo do reinício. Mudar o CNPJ, reprogramar o canhão e reinstalar a filosofia do sucesso. Abandonar os resquícios de tudo aquilo que fracassou e retomar dos alicerces em diante.

Aí, quem sabe, a Mercedes volte a ser levada a sério como equipe de ponta da Fórmula 1.

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