Opinião GP: FIA se atrapalha sozinha e volta a papel de protagonista indesejada da F1

O recuo na decisão sobre uma segunda punição a Fernando Alonso, na Arábia Saudita, mais uma vez colocou a FIA na berlinda. A falta de entendimento do próprio regulamento e dos acordos que firma com as equipes permitiu um novo capítulo da várzea que virou a sala dos comissários da Fórmula 1

Uma vez mais, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) assumiu um protagonismo que não lhe pertence na Fórmula 1. Já é péssimo o bastante ter de mudar o resultado de uma corrida após a bandeirada, mas o que aconteceu no GP da Arábia Saudita elevou o sarrafo da inabilidade. A sanção tardia a Fernando Alonso e, mais tarde, o recuo após o protesto da Aston Martin escancararam a falta de preparação e de conhecimento do próprio regulamento.

E esse episódio só fica pior à medida que se entende a justificativa dos comissários para a decisão de retirar a punição dada ao espanhol. Antes é importante colocar aqui os fatos: inicialmente, o bicampeão foi punido com 5s por causa de um erro no procedimento de largada. A sanção foi cumprida durante o pit-stop, na volta 18. Fernando seguiu na prova, foi ultrapassado por Max Verstappen e cruzou a linha de chegada na terceira posição, para celebrar o 100º pódio da carreira na F1.

Só que, logo após a cerimônia, a FIA soltou comunicado com uma nova punição – algo que a Mercedes, inclusive, já cogitava. Durante a parte final da prova, a equipe alemã tentou alertar George Russell sob uma possível sanção. Detalhe: nada fora divulgado antes. Muito bem, os comissários entenderam que um dos mecânicos tocou o carro #14 ao posicionar o macaco hidráulico na parte traseira – de fato, há o toque. E é aqui que começa a primeira falha.

A impressão para o público e todos no paddock foi a de que os comissários de prova levaram 1h para decidir sobre uma simples sanção, que poderia ser vista e revista a qualquer momento – é bom destacar ainda que, no Bahrein, Esteban Ocon sofreu as mesmas punições pelos mesmos erros. Tudo foi resolvido com a corrida em andamento. Desta vez, o procedimento foi totalmente diferente, uma vez que a punição de 10s foi aplicada após o término da corrida.

Alonso reclamou com razão: “Eles tiveram 35 voltas para pensar na punição, mas aparentemente não tiveram tempo. A FIA não foi muito bem, pois tiveram uma hora para aplicar a punição e fizeram tudo errado.”

A Aston Martin protestou imediatamente, usando vídeos e até mesmo o próprio regulamento – e isso por si só já é ultrajante. O caso é que a equipe foi capaz de reverter a decisão dos comissários e reaver o terceiro lugar. O argumento do time é o segundo ponto de discussão e que coloca a FIA em uma posição vulnerável por culpa própria. A esquadra verde alegou que, apesar do toque na parte traseira do carro, isso não está escrito no livro de regras que é proibido. Simples assim.

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Quando aplicou a sanção, a FIA usou como justificativa que existia um acordo entre as equipes sobre esse tipo de procedimento – trabalhar no carro no momento do cumprimento de uma punição – e que todos haviam aceitado que não era permitido tocar no carro nessas situações. Oi?

Foi aí que a Aston Martin pegou a entidade. A equipe de Lawrence Stroll argumentou que esse acordo não era muito claro e que havia uma ambiguidade, de fato, na redação do regulamento. “A regra afirma que você não pode trabalhar no carro, mas talvez seja pouco clara. Temos uma contagem regressiva [no procedimento]. Acreditamos que tudo estava seguro. Não houve qualquer vantagem obtida com isso”, disse Mike Krack, chefe do time inglês.

A versão do time e da FIA corroboraram essa tese, inclusive. Ao devolver o pódio ao bicampeão, a entidade escreveu em seu veredito que “após revisar as novas evidências, concluímos que não havia um acordo claro, como foi sugerido aos comissários anteriormente, que pudesse ser considerado para determinar que as partes concordaram que um macaco tocando um carro equivaleria a trabalhar no carro, sem mais”.

Fernando Alonso recuperou o terceiro lugar (Foto: Aston Martin)

Por meio de um porta-voz, a Federação ainda ratificou as ações mais tarde. “Em relação à definição de ‘trabalhar no carro’, para a qual havia precedentes conflitantes, e isso foi exposto por esta circunstância específica”. Além disso, o assessor também confirmou algo que não havia sido informado: os comissários decidiram revisar os procedimentos da Aston Martin por conta de “um pedido feito na última volta”.

Quer dizer, todo esse imbróglio serviu para abrir mais um precedente perigoso em uma direção de prova que segue problemática. E mais: o fim de semana na Arábia Saudita ainda testemunhou outras falhas: Lewis Hamilton, por exemplo, escapou de uma punição por ziguezaguear na frente de Pierre Gasly em disputa tripla com Charles Leclerc. Houve também uma questão com relação às joias do britânico, sem contar o procedimento do safety-car durante a prova.

Agora, a FIA não tem outra escolha a não ser realmente esclarecer e entender aquilo que escreve no regulamento. Parece louco, mas é real. É inadmissível que isso aconteça após um 2022 desastroso, que precedeu um dos maiores escândalos em termos de direção de prova da Fórmula 1.

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