Zarco faz currículo à la Elle Woods e amplia disputa por vaga de Dovizioso na Ducati

Depois de Francesco Bagnaia, o francês também tratou de se colocar como candidato a um posto na Ducati em 2021. Vice-campeão da MotoGP nos últimos três anos, o italiano de Forli ainda não renovou com a casa de Bolonha

A Ducati ainda não definiu quem será o companheiro de Jack Miller na temporada 2021 da MotoGP. Mas não é por falta de candidatos. A casa de Bolonha optou por esperar pelas corridas da Áustria para determinar o próximo passo no campeonato, mas o passar do tempo só faz aumentar a lista de candidatos.

Titular da Ducati desde 2013, Andrea Dovizioso tem sido o homem forte do time, já que, nos últimos três anos, deu à fábrica italiana o vice-campeonato da MotoGP. Mas o histórico de certa forma pomposo não foi o suficiente para assegurar uma renovação direta de contrato. A relação outrora sólida entre o italiano de Forli e a equipe de Borgo Panigale desenvolveu algumas rachaduras e, para piorar, a questão financeira também causou um impasse. Temendo os efeitos no orçamento por conta da pandemia do novo coronavírus, a fábrica comandada por Claudio Domenicali quer pagar um salário um tanto menor. O que o #4, claro, não concorda.

Em um campeonato onde a janela de transferências acontece cada vez mais cedo, a Ducati segue adiando a definição da futura dupla de pilotos. Em pleno agosto, a única certeza é que Miller vai subir da Pramac ― onde já tem contrato direto com a fábrica ― para a estrutura oficial e que Danilo Petrucci não segue no time. O italiano de 29 anos já acertou com a KTM para correr pela Tech3 na próxima temporada.

Johann Zarco foi um dos destaques do fim de semana em Brno (Foto: Red Bull Content Pool)

No mês passado, durante a abertura do campeonato, Davide Tardozzi, chefe da equipe, afirmou que a negociação tinha sido adiada para este mês. “Achamos que, para as duas partes, o melhor é seguirmos juntos, mas decidimos esperar e vamos ver o que acontece em agosto”, disse na época.

Na semana passada, Paolo Ciabatti, diretor-esportivo da Ducati, afirmou que a meta é “esperar até a segunda corrida na Áustria”, marcada para o dia 23.

O tempo, contudo, não tem sido um aliado de Dovi. Se em Jerez de la Frontera foi Francesco Bagnaia quem entregou um currículo fino e elegante, em Brno foi Johann Zarco que fez sua carta de apresentação no maior estilo Elle Woods, a clássica personagem de Reese Whiterspoon que fazia seus currículos em papel cor de rosa e perfumado em ‘Legalmente Loira’. E isso justamente em um fim de semana em que Andrea, além de chegar atrasado para a entrevista de emprego, não se vestiu para a ocasião.

No GP da Tchéquia, Dovizioso se classificou apenas em 18º, o pior resultado da carreira do italiano, e recebeu a bandeirada em 11º, mais de 16s atrás de Brad Binder, o vencedor no traçado tcheco. Só faltou mesmo falar palavrão e usar gírias com o entrevistador.

A equipe de Bolonha já afirmou que a meta é olhar primeiro para dentro, daí fácil entender que Bagnaia e Zarco são os principais rivais de Dovizioso. Tito Rabat também corre com uma Ducati, mas está muito longe de poder ameaçar qualquer um.

No caso de Pecco, o destino não parece ser um aliado do jovem integrante da Academia de Pilotos VR46. No GP da Andaluzia, o campeão de 2018 da Moto2 caminhava para um segundo lugar em Jerez, mas teve de abandonar a corrida após uma quebra na Desmosedici. Para piorar, o jovem de 23 anos fraturou a perna direita logo no primeiro dia de atividades em Brno e não vai voltar à pista antes de Misano, no próximo mês.

Zarco, porém, encontrou as estrelas alinhadas para impressionar. Algo que, aliás, ele estava precisando. O francês já tinha mostrado talento quando corria com a Yamaha da Tech3, mas a passagem pela KTM deixou uma imagem para lá de arranhada. Afinal, Johann aceitou a proposta para guiar uma moto sabidamente em desenvolvimento, mas não teve a boa vontade de desenvolvê-la. E, enquanto isso, ainda falou um pouco demais ao se queixar do protótipo austríaco.

A língua solta, aliás, também vitimou a Avintia. O bicampeão da Moto2 chegou a rejeitar a vaga alegando não se tratar de “uma equipe de ponta”. O que, aliás, era verdade: a estrutura espanhola sempre foi a lanterna entre as equipes privadas e contava com pouco apoio da Ducati.

Isso, porém, mudou em 2020. A Avintia conseguiu um amparo maior da casa de Bolonha e foi o próprio Gigi Dall’Igna, chefe da Ducati Corse, a divisão esportiva, que convenceu Johann a aceitar a proposta. Assim, o #5 deu não só a primeira pole à equipe, mas também o primeiro top-3 na MotoGP.

“Estava certo em ter dúvidas sobre a equipe no ano passado, pois tive dificuldade durante a temporada e não queria ter ainda mais. E eles não tinham os resultados certos”, disse Zarco no fim de semana. “Mas, além disso, eles eram como uma equipe privada, não satélite ― não era o mesmo investimento da Ducati e, neste nível, tudo é tão caro e todas as partes da moto, todos os detalhes são muito importantes”, ponderou.

“Agora, a Ducati está cuidando de todos esses detalhes da equipe e podemos ver que todos os técnicos da Ducati estão cuidando disso, além de os mecânicos estarem totalmente apaixonados e trabalhando bem”, considerou. “No passado, não era um trabalho ruim dos mecânicos que afetava os resultados, é só que eles estavam sempre muito limitados no orçamento e não tinham as melhores peças para competir. Então é por isso que eles tinham muita dificuldade. Agora eu só estou feliz por poder oferecer a eles este bom resultado”, declarou.

Além de pole e vitória, Johann deu outra demonstração de destreza do cumprir a punição da volta longa. O francês foi tão impecável que sequer perdeu a terceira colocação.

Depois de uma temporada duvidosa como a de 2019, Zarco precisava de um fim de semana como o de Brno para relembrar o mundo de seu talento. E ele conseguiu isso justamente em uma etapa que foi das mais difíceis para os pilotos mais experientes da Ducati.

Johann fez o que tinha de fazer para apimentar a briga pela vaga no time de fábrica: mostrou velocidade, inteligência, destreza e talento. Resta saber se Dovizioso vai conseguir um troco a altura no Red Bull Ring.

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