Sergio Pérez chegou à Red Bull como representante de uma mudança importante de filosofia dentro da equipe. Desde a saída de Sebastian Vettel, ao fim de 2014, os taurinos apostaram nos jovens forjados no seu Red Bull Junior Team. Deu certo com Daniel Ricciardo e mais ainda com Max Verstappen, mas Daniil Kvyat, Pierre Gasly e Alexander Albon não conseguiram se encaixar. ‘Checo’, após fazer uma temporada vitoriosa com a Racing Point, se viu sem vaga, mas foi salvo da fila do desemprego ao ter sido escolhido por Christian Horner e Helmut Marko para o segundo carro em 2021. A opção pelo mexicano foi justa e merecida, mas, depois de quatro corridas, Pérez ainda não conseguiu deslanchar. Pior ainda, já começa a ser fritado na conhecida air fryer que é a Red Bull quando um piloto está sob pressão e não consegue grandes resultados.
Antes de tudo, é preciso levantar alguns pontos. Pérez, assim como todos os pilotos que mudaram de equipe em 2021 — Carlos Sainz, da McLaren para a Ferrari; Daniel Ricciardo, da Renault para a McLaren; e Sebastian Vettel, da Ferrari para a Aston Martin — e o mesmo vale para Fernando Alonso, que voltou à F1 como piloto da Alpine depois de dois anos fora do grid, ainda não renderam o esperado neste princípio de temporada. Todos os citados são bastante tarimbados e, mesmo assim, sofrem neste começo de ciclo com suas respectivas novas equipes e, principalmente, a novos carros, com exigências distintas em termos de estilo de pilotagem.
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É natural que se leve algum tempo para atingir a maior adaptação e que seja possível adquirir a confiança a bordo de um carro completamente novo. ‘Checo’ Pérez, por exemplo, pediu cinco corridas para ‘vestir’ por completo o RB16B. O GP da Espanha do último domingo foi o quarto da temporada 2021 da Fórmula 1.
O caso do mexicano, no entanto, é um pouco diferente de Vettel, Sainz, Ricciardo e Alonso. Pérez foi contratado pela segunda melhor equipe do grid. Conhecida por impor um nível de pressão absurdo a todos os seus pilotos, com exceção da estrela Max Verstappen, a Red Bull construiu um carro que, em conjunto com o motor Honda, mostrou potencial logo de cara lutar pelo título com a Mercedes, impressionou nos testes de pré-temporada e confirmou o desempenho notável nas primeiras corridas do ano.
‘Checo’, mesmo com o pedido de cinco corridas para se adaptar, precisou entregar performance de maneira imediata para ser um elemento decisivo dos taurinos na luta contra a equipe anglo-alemã. Em princípio, parecia que não haveria grandes problemas: um grande pacote, um piloto cheio de cancha e ainda motivado pela grande temporada em 2020. Não tinha como dar errado.
Mas o começo da jornada de Pérez pela Red Bull não é bom. Claro que é preciso levar em conta, por exemplo, a pane antes da largada do GP do Bahrein — e a grande reação ao sair de último para terminar em quinto — e o fato de o piloto ter passado mal no sábado da classificação do último GP da Espanha, o que determinou por completo o resultado da sua corrida, também quinto, em Barcelona. Mas ‘Checo’ foi muito mal e sequer pontuou no GP da Emília-Romanha, onde teve sua melhor chance ao conquistar o segundo lugar no grid em Ímola, e conquistou o resultado mais ok no ano quando largou e terminou em quarto lugar no GP de Portugal.
Os resultados acima são aceitáveis e muito bons quando você pilota por uma equipe de meio de grid, como era a Racing Point ano passado. Mas para quem representa a Red Bull, dona do segundo melhor carro do grid e que almeja voltar ao topo da F1 depois de oito anos, é pouco.
Entretanto, é muito cedo para afirmar que Pérez na Red Bull não deu certo e que é uma decepção completa. Foram, novamente, só quatro corridas disputadas, de modo que é preciso ter um pouco de calma. Só que a Red Bull não tem tempo a perder e “precisa desesperadamente” do mexicano, como disse Horner depois do GP da Espanha. Horner, Marko e Max Verstappen reclamaram publicamente de Pérez porque sentiram falta do latino-americano mais à frente na corrida para tentar atrapalhar Lewis Hamilton na sua caça ao holandês. Max disparou e disse que está “sozinho nessa luta”.
Diferente dos seus antecessores mais recentes, Gasly e Albon, Pérez tem maturidade suficiente para lidar com a situação sem se abalar e tomar tudo isso como impulso para dar a volta por cima. Ocorre que o piloto nascido em Guadalajara há tempos não se depara com um cenário de tamanha pressão, desde 2013, quando vivenciou sua primeira experiência em uma equipe de ponta, a McLaren, e não deu certo. O Pérez de 2021 é muito diferente daquele menino de 20 e poucos anos e é cascudo o bastante para suportar uma pressão muito mais forte que a imposta naquele tempo por Ron Dennis e Martin Whitmarsh.
A grande chance de Pérez ganhar um alívio na airfryer incansável da Red Bull está já neste próximo fim de semana, em Mônaco, onde foi pódio em 2016 pela Force India. A equipe taurina costuma andar muito bem no circuito urbano do Principado e, mesmo com a melhora importante da Mercedes nas últimas corridas, desponta com chances reais de vitória. No olho do furacão, ‘Checo’ sabe que não tem saída.
Na corrida que vai marcar o fim do prazo dado para se adaptar por completo ao RB16B, o mexicano só alternativa para evitar a fritura: é preciso entregar o que a Red Bull deseja e ser peça fundamental na batalha de Verstappen contra Hamilton pelo título.