MotoGP falha em protocolos após graves acidentes e expõe pilotos a riscos maiores

Acidentes em todas as classes do Mundial de Motovelocidade estão marcando 2023, mas a liberação de dois pilotos da Moto3 após quedas na pista molhada antes do GP da Austrália — descumprindo qualquer protocolo de concussão — mostrou falhas na parte médica do campeonato

O GP da Austrália viu a MotoGP travar uma batalha por preservar a segurança e a integridade dos pilotos ao inverter a ordem das corridas do fim de semana e, depois, cancelar a prova sprint por conta das péssimas condições climáticas em Phillip Island. Ao mesmo tempo, voltou a deixar à mostra suas graves falhas em protocolos de concussão e que deveriam preservar a saúde dos competidores.

O motociclismo é um esporte perigoso, sim, e que deixa os pilotos muito mais vulneráveis do que nos carros. Uma queda no Mundial de Motovelocidade traz muito mais danos aos atletas do que ao equipamento, com certeza. Por isso, ter mais cuidado com quem faz o espetáculo deveria ser uma preocupação dos organizadores, algo que ficou bem distante do esperado nos últimos meses.

O caso de Phillip Island talvez seja o mais recente, mas também o mais grave na temporada 2023. As condições climáticas do último domingo (22), levaram frio, chuva e fortes ventos para a pista australiana, deixando a situação ainda mais delicada. Equipamentos e pilotos da Moto3 já são conhecidos por sua fragilidade e leveza, então colocar essa combinação para encarar o péssimo cenário da pista à beira-mar não tenha sido a melhor ideia, como rapidamente se provou.

Antes mesmo da largada, três pilotos caíram. Matteo Bertelle foi quem se livrou com mais sorte. Daniel Holgado sofreu uma dura queda e chegou a cortar o rosto, enquanto Diogo Moreira admitiu que perdeu a consciência em seu acidente. O caso do brasileiro espanta porque menos de 15 minutos depois estava de volta em sua moto e largando para a prova na Austrália — ainda que tenha abandonado logo depois e encaminhado a um hospital.

Diogo Moreira caiu indo para a pista (Vídeo: MotoGP)

“Durante a volta do warm-up, eu caí e bati minha cabeça, o que me fez perder a consciência, e tenho de agradecer a todos pela ajuda e pela preocupação”, declarou o piloto após a corrida.

Procurada pelo GRANDE PRÊMIO, a equipe MSi inicialmente comentou o assunto de maneira vaga. Em seguida, após nova consultada, afirmou que não sabia que o piloto tinha perdido a consciência até ele contar quando abandonou a corrida passando mal.

“Ninguém sabia que ele tinha perdido a consciência. Ele retornou para os boxes, subiu na moto e decidiu sair. Quando abandonou, disse que se sentia com tontura e foi quando vimos o vídeo, confirmando que ele tinha ficado desacordado”, pontuou.

A Tech3, equipe de Holgado, também foi procurada pelo GRANDE PRÊMIO e declarou que o espanhol fez apenas um curativo antes de voltar a correr. “Sim, os doutores o viram e colocaram um esparadrapo antes da largada da prova. Não sabemos como ele se machucou, mas foi uma forte queda”, afirmou.

Ainda que o recado tenha sido dado na primeira corrida do final de semana, a organização insistiu no erro com a Moto2. Novamente o clima hostil de Phillip Island complicou a vida dos pilotos até que na volta 10, após o grave acidente de Celestino Vietti, no final da reta principal, a prova foi encerrada. Antes do italiano, outros pilotos já tinham caído, como Jake Dixon, Mattia Casadei, Sergio García e Filip Salac. Por conta disso, a programação restante foi cancelada.

Daniel Holgado chegou a se machucar na queda (Foto: Reprodução/MotoGP)

“Hoje, as condições estavam realmente no limite, estou surpreso que tenham deixado a corrida começar. Alguns pilotos me viram cair e foram ver como eu estava após a bandeira vermelha, eles me disseram que evitaram as quedas por milagre”, afirmou Vietti.

Mike Webb, diretor de provas da MotoGP, afirmou que o acidente de Vietti foi a causa do cancelamento da sprint por ser “o primeiro que pudemos claramente identificar que foi pelo vento”. E ainda disse que “não havia como a situação melhorar antes da largada da próxima corrida”.

Ainda que esse caso da Austrália, como um todo, seja chocante, não é o primeiro. Se analisarmos várias sessões do Mundial deste ano, conseguimos achar exemplos. No GP da Índia, Deniz Öncü caiu durante o terceiro treino livre da Moto3 enquanto entrava nos boxes e rapidamente voltou para a pista sem antes passar no centro médico, como é solicitado. Como castigo, foi empurrado para o fim do grid e ainda precisou cumprir uma punição durante a corrida.

Na Catalunha, no início de setembro, o susto foi na classe rainha do Mundial. Na largada da corrida principal, Francesco Bagnaia caiu sozinho na frente do pelotão e acabou atropelado pela moto de Brad Binder. Ainda que milagrosamente não tenho sofrido fraturas, foi a um hospital e saiu do local caminhando com o auxílio de muletas.

Fiscais se preocuparam em sinalizar que Francesco Bagnaia estava bem após acidente (Foto: Ducati)

“Na noite de domingo, voltei para casa com a equipe e, depois de descansar um pouco, comecei imediatamente a me preparar para voltar à pista em Misano”, disse o atual campeão mundial da MotoGP.

E, de fato, ele voltou após passar por uma avaliação. O que não significou uma prova tranquila em San Marino. Com dores, o piloto da Ducati sofreu da largada até a bandeirada e salvou um pódio com mais garra do que juízo. “O mais importante, e que me ajuda a ir adiante, é não jogar a toalha. Não foi um final de semana fácil”, afirmou Pecco.

Outro postulante ao título que passou por dores excruciantes foi Marco Bezzecchi. Uma semana antes da prova na Indonésia, caiu durante um treino e fraturou a clavícula. Dias depois, estava acelerando — e ao mesmo tempo se arrastando — na pista de Mandalika. Situação parecida com a que viveu o companheiro Luca Marini, também da VR46, na mesma etapa. Apesar do sofrimento de ambos, a MotoGP declarou a dupla apta para correr.

Vale lembrar que já se passaram 16 etapas do calendário e até agora a MotoGP não viu o seu grid completo correr junto. Vários competidores já perderam corridas, como Álex Rins, Miguel Oliveira, Pol Espargaró, Joan Mir, Enea Bastianini, Marc Márquez, Álex Márquez e Raúl Fernández. Correr em 2023 virou um ato de sobrevivência, mas os protocolos de segurança precisam proteger ainda mais os atletas para que novas lesões não se criem ou mesmo para evitar a piora das que já afetam os astros da principal categoria das duas rodas.

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