Mercedes passa vergonha e caminho de volta ao topo não será tão simples em 2024

A Mercedes viveu um dos piores fins de semana da sua história recente na F1 em termos de desempenho. O ritmo sofrível em Interlagos expôs o trabalho da equipe alemã e deixou claro que será preciso muito mais para retornar ao posto de liderança que tinha até duas temporadas atrás. A ideia de fazer um carro inteiramente novo, como disse Toto Wolff, é só a ponta do iceberg da octacampeã

Ao fim do GP de São Paulo de Fórmula 1, o chefão Toto Wolff sequer disfarçou e não poupou adjetivos ao descrever a (não) performance da Mercedes. Os mais atentos vão lembrar do clássico meme de Renata Vasconcellos. E é justíssimo, porque o rendimento da equipe alemã em Interlagos, de fato, foi capenga, frágil, inconsistente e tudo mais. Pode escolher. De uma hora para outra, o time despencou e nem sabe muito bem explicar o que deu errado, o que ligou um sinal de alerta fortíssimo (mais um) em Brackley. Além disso, deixou claro que o caminho da marca da estrela de voltar ao topo não será tão simples e nem rápido.

O caso é que a Mercedes chegou ao Brasil embalada por duas grandes atuações de Lewis Hamilton — nos EUA, o inglês apresentou um ritmo de corrida absurdo e cruzou a linha de chegada no segundo lugar. Mais tarde, acabou desclassificado da etapa americana, devido um desgaste excessivo do assoalho. Ainda assim, a performance esteve lá. No México, o desempenho se repetiu, mas, desta vez, o pódio foi devidamente garantido. O salto de qualidade se deu, especialmente, devido a uma interessante atualização do fundo do carro, que funcionou imediatamente no Circuito das Américas.

Em Austin, Hamilton chegou a dizer que era a primeira vez, em dois anos, que sentia uma peça nova tinha realmente dado certo no carro. Durou muito pouco. Na chegada a São Paulo, a equipe rapidamente se deparou com uma realidade completamente diferente. O W14 simplesmente não correspondeu e fez o time passar vergonha durante a corrida de domingo. Foi medonho.

A suspeita recai sobre a configuração aerodinâmica do carro, que acabou por provocar outras falhas, combinadas com um asfalto áspero demais em Interlagos. Wolff e Hamilton citaram esses fatores e ainda falaram sobre a decisão de ampliar a carga na asa traseira, em busca de maior aderência, por causa também da pista. Mas isso tirou velocidade de reta e deixou as Flechas Pretas indefesas. Como se não bastasse, o desgaste dos pneus foi assustado — algo que geralmente não acontece com a Mercedes, que tem como ponto forte a gerência dos compostos.

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Diante desse cenário, Hamilton e George Russell sofreram para tirar algum desempenho. No fim, depois de várias ultrapassagens dos adversários e sem condições de revidar, o heptacampeão foi apenas o oitavo, mais de 1 minuto atrás do vencedor Max Verstappen. Enquanto isso, o mais jovem da dupla sequer terminou. Russell precisou abandonar por causa de um superaquecimento do motor.

Passada a bandeirada, os semblantes mostravam uma mistura de preocupação, ódio e até mesmo um certo alívio ao notar que restam apenas duas provas para o fim da temporada. Mas o caso da Mercedes é bem mais complexo. “Temos uma estrutura adequada, uma equipe sólida, mas não pareceu neste fim de semana”, apontou Wolff na coletiva após o GP de São Paulo, acompanhada também pelo GRANDE PRÊMIO, na pista paulistana.

“Em três corridas seguidas, fomos de dois fortes segundos lugares, desafiando Max [Verstappen], a lugar nenhum. Isso é inaceitável. O desenvolvimento do carro nos mostra que fizemos algo de errado. O carro é tão imprevisível que pode ir para qualquer lado”, completou.

O dirigente foi no ponto. O problema todo é exatamente esse. A Mercedes simplesmente não compreende o carro que construiu, as atualizações que fez ou como as peças novas vão funcionar em diferentes condições. E isso só reforça a impressão de que, os caras que já ganharam oito títulos seguidos, estão completamente perdidos.

Soma-se a isso o fato de que a equipe apostou, para o início da era do efeito-solo, em um conceito extremo, que se mostrou falho, mas que, mesmo assim, foi levado adiante, sem a anuência de Hamilton — vale lembrar aqui que o inglês passou boa parte da temporada passada testando as diferentes atualizações, na tentativa de encontrar um denominador comum. Jamais aconteceu. E todas as queixas do britânico também não foram ouvidas. Erro dos mais graves.

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Wolff viu o pior fim de semana dos últimos 13 anos para a Mercedes (Foto: Rodrigo Berton/Warm Up)

Ainda, curiosamente, o “pior fim de semana da Mercedes em 13 anos“, como disse Wolff, ainda em Interlagos, começou com o anúncio da saída de Mike Elliott, que ocupava o cargo de diretor-técnico. É dele a ideia do design do zeropod e daquele W13 estreito. Ainda, por causa de Elliott, a equipe insistiu no projeto fracasso deste ano.

“Há algo extremamente errado mecanicamente. Não é uma asa traseira ou o carro andar com uma carga maior. Estamos falando de um ou dois milímetros. É o desempenho, mas não é a explicação para um fim de semana totalmente fora”, reconheceu o austríaco, que garantiu mudanças drásticas para 2024.

“Teremos um carro fundamentalmente diferente no próximo ano, e isso confirma que é a coisa certa a fazer”, emendou Wolff. Tem toda a razão.

De fato, se a ideia é retomar o caminho das vitórias e da disputa do campeonato, que não acontece desde 2021, sendo que o único triunfo na era do efeito-solo foi exatamente em Interlagos, um ano atrás, a Mercedes terá de se arriscar e vai precisar mais do que só um carro diametralmente diferente. Vai ter de acertar de cara, porque perdeu a chance de errar por culpa própria e, agora, é simples: ou vai ou racha.

Fórmula 1 retorna daqui a duas semanas com o GP de Las Vegas, penúltima etapa da temporada, programado para acontecer entre os dias 17 e 19 de novembro. O GRANDE PRÊMIO faz a cobertura completa do evento.

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