Erro no carro, bate-cabeças e apreço por vexame: como Ferrari se rebaixou em 2019

A Ferrari segue, inacreditavelmente, ainda batendo cabeça em 2019. De forma surpreendente e estranha, o time de Maranello saiu de uma pré-temporada fortíssima para um campeonato apático e errático, o que leva a pergunta: o que acontece nas garagens italianas?

Há uma máxima no esporte a motor que diz que treino é treino e corrida é corrida. Isso vale muito para a Fórmula 1, especialmente na fase de pré-temporada e testes coletivos, em que não se sabe muito o que cada um está fazendo ou avaliando. Ainda assim, é possível tirar algumas pequenas conclusões desse período. E neste ano, a Ferrari surgiu genuinamente forte durante as tradicionais atividades preparatórias em Barcelona, embalada e renovada pela contratação do novato Charles Leclerc e pela troca no comando, com a saída de Maurizio Arrivabene e a chegada de Mattia Binotto, engenheiro de longa data de Maranello. Tudo convertia para um novo começo entre os ferraristas, depois de uma temporada duríssima em 2018. 
 
A esquadra italiana pareceu ter entendido melhor o regulamento ao criar a SF90. O novo conjunto de regras mexeu, principalmente, com a parte dianteira, que ganhou maior importância em termos de estabilidade, aderência e controle da turbulência – uma tentativa de facilitar as ultrapassagens. Só que não havia ficado claro, naquele momento, o impacto das mudanças feitas pela Pirelli com relação aos pneus. Portanto, só mesmo quando começou o campeonato é que foi possível encarar a realidade como ela é.
 
A Ferrari enfrentou problemas logo de cara. Na Austrália, se deparou com uma extrema dificuldade de gerar temperatura dos pneus e não se encontrou no particular circuito de Melbourne. Como se não bastasse, ainda se colocou sob os holofotes ao proibir Charles Leclerc de ultrapassar Sebastian Vettel, mesmo tendo um ritmo melhor. 
A Ferrari vive um ano dos mais complicados em 2019 (Foto: AFP)

Na sequência, veio o Bahrein, e a equipe esboçou a competitividade alardeada na pré-temporada. A incrível velocidade de reta assumiu o posto de principal força da SF90, e pareceu que o time enfim deslancharia. Nada deu certo, porém. Leclerc, é bem verdade, dominou aquele fim de semana, mas foi traído pelo motor. Já Vettel cometeu o primeiro erro sob pressão, quando se viu acossado. E de novo, o time vermelho quis se lançar na cilada das ordens de equipe. A derrota doída do monegasco acabou por ofuscar o equívoco do tetracampeão, que poderia até ter saído com a vitória não fosse a rodada quando era ultrapassado por Lewis Hamilton.

 
Daí em diante a equipe começou a sofrer bem com os novos compostos da Pirelli. O que acontece é que a fabricante modificou a construção dos pneus, alterou a banda e a composição, para também evitar as bolhas e alto desgaste. E grande parte dessas mudanças, diga-se, foram feitas a pedido das equipes. Mas a Ferrari não conseguiu e ainda não é capaz de tratar bem dos pneus e aí, talvez, esteja uma das grandes desvantagens técnicas para a Mercedes – que se adaptou perfeitamente à borracha de 2019. O time também se viu em problemas com a parte dianteira do carro. 
 
Só que as falhas da Ferrari não são apenas do ponto de vista técnico. A esquadra entrou em uma espiral quase inacreditável de decisões equivocadas, trapalhadas e erros de seus pilotos e estrategistas. Na China, a equipe precisou recorrer a ordens de equipe de novo, sempre beneficiando Vettel. No Azerbaijão, o pit-wall errou na escolha de pneus na classificação e na estratégia de Leclerc na corrida, enquanto o próprio jovem já havia colocado tudo a perder quando enfiou a SF90 no muro do Castelo em Baku, em uma sessão que era claramente um dos favoritos à pole. Isso tudo em uma etapa em que o time apostou em diversas peças aerodinâmicas novas. 
Sebastian Vettel sucumbiu a pressão de Hamilton e errou (Foto: Mercedes)

Duas semanas depois, o início da fase europeia. A Espanha guardava a esperança da virada e do reencontro com a performance dos testes. Novo revés. A equipe levou para a Catalunha alguns elementos diferentes e um novo motor a combustão. Só que nada disso aplacou a derrota, e os problemas já existentes ficaram ainda mais nítidos – a SF90 não se dá bem em curvas de baixa velocidade e não possui aderência suficiente. 

E como se não bastasse, novos erros de estratégia afundaram a equipe, que tomou tempo e uma lavada vergonhosa da Mercedes. Sequer foi ao pódio e aí as críticas começaram a pesar. Mônaco foi outro desgaste. O time cometeu um erro na classificação ao manter Leclerc nos boxes no fim do Q1, o que o forçou a largar do fundo do grid. O monegasco não foi além na primeira parte da corrida, se envolvendo em toques e perda de desempenho. Vettel foi ao pódio, em segundo, mas mais por conta de problemas dos adversários do que por mérito. E a pressão seguiu intensa. Até troca de pessoal foi ventilada.

 
A chance de um suspiro de alívio surgiu com o GP do Canadá, é verdade. Finalmente, a Ferrari teria uma chance de redenção nas longas retas do Gilles Villeneuve. Sebastian brilhou com a pole e vinha, de fato, em uma corrida forte no domingo. Mas, de novo, a pressão o fez sucumbir. Quando estava sendo perseguido por Hamilton, cometeu um erro, escapou da pista e, na volta, espremeu o rival. Pela “manobra perigosa’, tomou 5s e perdeu a oportunidade de vitória. A punição foi um enorme revés e, por mais controversa, ajudou a expor ainda mais o cenário desolador em Maranello.
Mattia Binotto vem sofrendo com a pressão de ser o chefão da Ferrari (Foto: Twitter)

A Ferrari não tinha como entrar com um recurso propriamente dito, de acordo com o regulamento, mas tinha o direito de pedir uma revisão da sanção. E o fez, alegando ter novas evidências sobre o caso. Só que as “provas contundentes” foram quase infantis. Lançaram mão de uma opinião de um ex-piloto e imagens que pouco mudaram a percepção inicial dos comissários. Quer dizer, novo equívoco e, novamente, de quem comanda e deveria blindar os principais alvos. Resultado: a FIA negou e a Ferrari passou vergonha. 

 
Depois de tudo, teve ainda o GP da França, em que nenhuma das muitas atualizações levadas para Paul Ricard surtiu efeito. Em nenhum momento os carros vermelhos tiveram chance de se aproximar da briga pela vitória. E somente Leclerc foi ao pódio.
 
Dessa forma, o cenário do Mundial tem Hamilton com larga e honesta vantagem, enquanto a Ferrari tenta ainda se encontrar, mas sem saber muito bem para onde ir. Em todos os episódios de equívocos e confusões, Binotto não pareceu exercer a força de outros chefes ferraristas. A equipe ainda derrapa em situações que deveria dominar. Comete erros básicos e inaceitáveis, contra uma Mercedes que não se permite vacilar. E aí não há desculpas.

No caminho da reformulação
Charles Leclerc tem uma espécie de 'coach' na Ferrari (Foto: AFP)
Neste momento, o time de Maranello segue tentando entender as falhas do carro e deve levar novidades para Áustria, embora o Red Bull Ring seja mais favorável ao seu carro. Há também uma movimentação em termos de alterações da metodologia de trabalho dentro das garagens italianas. A equipe perdeu a estrutura horizontal clássica. 
 
Entende-se que, antes mesmo do Canadá, a cúpula tenha redefinido a posição de Binotto, que antes respondia pela direção técnica e de chefia da equipe. Agora, o dirigente fica mais na linha de frente. Outros postos chave também ganharam novas atribuições, como Jock Clear. Antes principal engenheiro da equipe, agora tem a responsabilidade de atender Leclerc. Laurent Mekies, ex-FIA, é quem assume a direção-esportiva. Houve contratações para os setores de estratégia, além de Maurizio Tomasselli, que foi o coordenador de desenvolvimento de chassi da Toro Rosso, e Hermann Wolche, que vem da Mercedes e é da área da aerodinâmica. Há profissionais vindos de Red Bull e Renault. 
 
As atualizações seguem para as próximas provas. De acordo com o jornal italiano ‘La Gazzetta dello Sport’, a equipe deve introduzir uma série de importantes atualizações nas próximas três etapas, entre as novidades estão um novo difusor e defletores.

A nona etapa da temporada 2019 do Mundial de F1 acontece em uma semana com o GP da Áustria, no circuito do Red Bull Ring. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.


 
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