Há uma máxima no esporte a motor que diz que treino é treino e corrida é corrida. Isso vale muito para a
Fórmula 1, especialmente na fase de pré-temporada e testes coletivos, em que não se sabe muito o que cada um está fazendo ou avaliando. Ainda assim, é possível tirar algumas pequenas conclusões desse período. E neste ano,
a Ferrari surgiu genuinamente forte durante as tradicionais atividades preparatórias em Barcelona, embalada e renovada pela contratação do novato Charles Leclerc e pela troca no comando, com a saída de Maurizio Arrivabene e a chegada de Mattia Binotto, engenheiro de longa data de Maranello. Tudo convertia para um novo começo entre os ferraristas, depois de uma temporada duríssima em 2018.
A esquadra italiana pareceu ter entendido melhor o regulamento ao criar a SF90. O novo conjunto de regras mexeu, principalmente, com a parte dianteira, que ganhou maior importância em termos de estabilidade, aderência e controle da turbulência – uma tentativa de facilitar as ultrapassagens. Só que não havia ficado claro, naquele momento, o impacto das mudanças feitas pela Pirelli com relação aos pneus. Portanto, só mesmo quando começou o campeonato é que foi possível encarar a realidade como ela é.
A Ferrari vive um ano dos mais complicados em 2019 (Foto: AFP)
Na sequência, veio o Bahrein, e a equipe esboçou a competitividade alardeada na pré-temporada. A incrível velocidade de reta assumiu o posto de principal força da SF90, e pareceu que o time enfim deslancharia. Nada deu certo, porém. Leclerc, é bem verdade, dominou aquele fim de semana, mas foi traído pelo motor. Já Vettel cometeu o primeiro erro sob pressão, quando se viu acossado. E de novo, o time vermelho quis se lançar na cilada das ordens de equipe. A derrota doída do monegasco acabou por ofuscar o equívoco do tetracampeão, que poderia até ter saído com a vitória não fosse a rodada quando era ultrapassado por Lewis Hamilton.
Daí em diante a equipe começou a sofrer bem com os novos compostos da Pirelli. O que acontece é que a fabricante modificou a construção dos pneus, alterou a banda e a composição, para também evitar as bolhas e alto desgaste. E grande parte dessas mudanças, diga-se, foram feitas a pedido das equipes. Mas a Ferrari não conseguiu e ainda não é capaz de tratar bem dos pneus e aí, talvez, esteja uma das grandes desvantagens técnicas para a Mercedes – que se adaptou perfeitamente à borracha de 2019. O time também se viu em problemas com a parte dianteira do carro.
Só que as falhas da Ferrari não são
apenas do ponto de vista técnico. A esquadra entrou em uma espiral quase inacreditável de decisões equivocadas, trapalhadas e erros de seus pilotos e estrategistas.
Na China, a equipe precisou recorrer a ordens de equipe de novo, sempre beneficiando Vettel.
No Azerbaijão, o pit-wall errou na escolha de pneus na classificação e na estratégia de Leclerc na corrida, enquanto o próprio jovem já havia colocado tudo a perder quando enfiou a SF90 no muro do Castelo em Baku, em uma sessão que era claramente um dos favoritos à pole. Isso tudo em uma etapa em que o time apostou em diversas peças aerodinâmicas novas.
Sebastian Vettel sucumbiu a pressão de Hamilton e errou (Foto: Mercedes)
Duas semanas depois, o início da fase europeia. A Espanha guardava a esperança da virada e do reencontro com a performance dos testes. Novo revés. A equipe levou para a Catalunha alguns elementos diferentes e um novo motor a combustão. Só que nada disso aplacou a derrota, e os problemas já existentes ficaram ainda mais nítidos – a SF90 não se dá bem em curvas de baixa velocidade e não possui aderência suficiente.
E como se não bastasse, novos erros de estratégia afundaram a equipe, que tomou tempo e uma lavada vergonhosa da Mercedes. Sequer foi ao pódio e aí as críticas começaram a pesar. Mônaco foi outro desgaste. O time cometeu um erro na classificação ao manter Leclerc nos boxes no fim do Q1, o que o forçou a largar do fundo do grid. O monegasco não foi além na primeira parte da corrida, se envolvendo em toques e perda de desempenho. Vettel foi ao pódio, em segundo, mas mais por conta de problemas dos adversários do que por mérito. E a pressão seguiu intensa. Até troca de pessoal foi ventilada.
A chance de um suspiro de alívio surgiu com o GP do Canadá, é verdade. Finalmente, a Ferrari teria uma chance de redenção nas longas retas do Gilles Villeneuve. Sebastian brilhou com a pole e vinha, de fato, em uma corrida forte no domingo. Mas, de novo, a pressão o fez sucumbir. Quando estava sendo perseguido por Hamilton, cometeu um erro, escapou da pista e, na volta, espremeu o rival. Pela “manobra perigosa’, tomou 5s e perdeu a oportunidade de vitória. A punição foi um enorme revés e, por mais controversa, ajudou a expor ainda mais o cenário desolador em Maranello.
Mattia Binotto vem sofrendo com a pressão de ser o chefão da Ferrari (Foto: Twitter)
Depois de tudo, teve ainda o GP da França, em que nenhuma das muitas atualizações levadas para Paul Ricard surtiu efeito. Em nenhum momento os carros vermelhos tiveram chance de se aproximar da briga pela vitória. E somente Leclerc foi ao pódio.
Dessa forma, o cenário do Mundial tem Hamilton com larga e honesta vantagem, enquanto a Ferrari tenta ainda se encontrar, mas sem saber muito bem para onde ir. Em todos os episódios de equívocos e confusões,
Binotto não pareceu exercer a força de outros chefes ferraristas. A equipe ainda derrapa em situações que deveria dominar. Comete erros básicos e inaceitáveis, contra uma Mercedes que não se permite vacilar. E aí não há desculpas.
No caminho da reformulação
Charles Leclerc tem uma espécie de 'coach' na Ferrari (Foto: AFP)
Neste momento, o time de Maranello segue tentando entender as falhas do carro e deve levar novidades para Áustria, embora o Red Bull Ring seja mais favorável ao seu carro. Há também uma movimentação em termos de alterações da metodologia de trabalho dentro das garagens italianas. A equipe perdeu a estrutura horizontal clássica.
Entende-se que, antes mesmo do Canadá, a cúpula tenha redefinido a posição de Binotto, que antes respondia pela direção técnica e de chefia da equipe. Agora, o dirigente fica mais na linha de frente. Outros postos chave também ganharam novas atribuições, como Jock Clear. Antes principal engenheiro da equipe, agora tem a responsabilidade de atender Leclerc. Laurent Mekies, ex-FIA, é quem assume a direção-esportiva. Houve contratações para os setores de estratégia, além de Maurizio Tomasselli, que foi o coordenador de desenvolvimento de chassi da Toro Rosso, e Hermann Wolche, que vem da Mercedes e é da área da aerodinâmica. Há profissionais vindos de Red Bull e Renault.
As atualizações seguem para as próximas provas. De acordo com o jornal italiano ‘La Gazzetta dello Sport’, a equipe deve introduzir uma série de importantes atualizações nas próximas três etapas, entre as novidades estão um novo difusor e defletores.
A nona etapa da temporada 2019 do Mundial de F1 acontece em uma semana com o GP da Áustria, no circuito do Red Bull Ring. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.
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