Grandes viradas nunca são causadas por uma única razão. Sempre se trata de uma conjunção de elementos que terminam possibilitando as remontadas do esporte. Por toda a história que a Mercedes contou na Fórmula 1 ao longo dos últimos sete anos, desde o começo da era híbrida, certamente a expectativa de mudança nas circunstâncias não estavam depositadas em 2021. Mas faltou combinar com os austríacos, que resolveram aparecer nos testes de pré-temporadas vitaminados. Assim, o 2021 que resolveu apontar é diferente daquele imaginado inicialmente: um em que há briga.
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Nunca é apenas uma coisa, como já foi estabelecido acima, mas um elemento se destaca. A dificuldade de formar pilotos que mereçam estar na Fórmula 1 casada com o problemas destes poucos a assumir o carro da Red Bull foram elementos que fizeram a companhia apelar para fora. Após os fracassos retumbantes de Daniil Kvyat, Pierre Gasly e Alexander Albon, tiveram de recorrer a um forasteiro. Alguém nascido e criado em outras bandas: Sergio Pérez.
Aos 31 anos e no auge da carreira, Pérez se viu empurrado para a beirada do precipício em 2020 quando a Racing Point definiu que viraria Aston Martin e faria uma grande contratação: Sebastian Vettel. Como Lance Stroll é filho do dono da equipe, Lawrence Stroll, era fácil imaginar que a corda arrebentaria nas mãos do mexicano. ‘Checo’ tem uma década de Fórmula 1, boa parte dela passada nas versões anteriores do que agora é a Aston Martin, mas também contou com um impressionante princípio na Sauber e uma decepcionante temporada numa McLaren em queda livre. A notícia da demissão de quem ainda tinha um ano de contrato, porém, abriu uma metade de temporada mágica. Pérez guiou como talvez nunca na carreira, foi ao pódio e até venceu a primeira corrida na F1. Quando a Red Bull apareceu, de fato, como possibilidade, falava em se aposentar.
Chamado às pressas, Pérez sabe que tem a chance da carreira. Em condições normais, a Red Bull é uma porta que seguiria trancada para ele, não importando a qualidade de sua pilotagem. Checo precisava da chance, mas a Red Bull também precisava dele. Tinha que contar com alguém que conseguisse seguir o brilhantismo de Max Verstappen e que pudesse se dar ao luxo de se preocupar mais com o feedback e desenvolvimento do carro que com as tentativas de entender como ser rápido no cockpit. Essa parte, é justo dizer, já deu certo. Pérez se encontrou com o carro e não vai ficar perdido nos confins do pelotão intermediário uma vez que a temporada começar. Com Gasly e Albon os primeiros testes coletivos foram claros: teriam dificuldades. É uma resposta, então.
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Pérez ainda quis ser cauteloso, pediu cinco corridas para acostumar com o carro, mas a equipe está convencida que, nele, encontrou soluções. “Sua simulação de corrida foi a mais rápida que já vi. Ele estava completamente à altura de sua reputação como especialista em gerenciar pneus e como piloto rápido. O carro não é somente adequado ao Verstappen, também se adapta ao Pérez. Com o Pérez e sua experiência e forma de trabalho, esperamos que ele fique bem próximo ao Max nas corridas”, afirmou o consultor Helmut Marko. Assim, foi claro: a Red Bull não tem mais um carro que acomode apenas o outro piloto.
E é excelente contar com Pérez, mas ainda melhor é ter Verstappen. Que o holandês tem brilhante talento ninguém mais duvida – se alguém ainda teima em misturar as coisas e diminuir a capacidade que Max tem para conduzir um carro de corrida, está brigando pesado com a realidade. Só que os últimos anos mostraram que, como piloto, está maduro para os maiores desafios. Falta ter um carro que permita a si desafiar a Mercedes. Não quer dizer que Verstappen vai arrancar doce das mãos de Lewis Hamilton, mas pode oferecer batalha. Com o público tendo tomado plena consciência da cláusula de rescisão unilateral do contrato baseado apenas em desempenho, é fundamental que a Red Bull responda e mostre, para ele e para todos, que é o lugar para estar.
Se a equipe realmente oferecer um carro em patamar de igualdade com a Mercedes, há uma convicção desde agora: Verstappen vai desafiar o cinturão de Hamilton. É certeza.
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Mesmo se mantendo o mais cuidadoso possível para não arrastar reações exaltadas no paddock, Verstappen mostrou que ficou animado com o que notou nos testes coletivos do Bahrein. “Com certeza foi a melhor pré-temporada da minha carreira”, falou após os três dias no Bahrein.
Todo este otimismo recente nasceu no Bahrein. A verdade é que nem a própria Red Bull ou seus pilotos imaginavam chegar com a moral atual para a temporada. Como a Mercedes demorou profundamente em 2020 e os carros são essencialmente nascidos da mesma forma, era justo imaginar que seria parecido neste ano.
A única mudança forçada pelo regulamento dava conta dos assoalhos. A FIA ordenou que as equipes diminuíssem os assoalhos para que, assim, o equilíbrio fosse ligeiramente afetado para cortar pressão aerodinâmica. A perda estimada no downforce era de 10%, o suficiente para diminuir a sujeira no ar jogado dos carros para quem vinha atrás e, assim, sofria com turbulências e era empurrado para longe. Não que trate de movimentação desprezível, mas, no esquema geral das coisas, uma mudança pequena e para a qual não se deu muito valor de que mexeria no pelotão. Ainda mais levando em conta que as regras sofrerão verdadeira revolução em 2022.
Só que a Mercedes viu brechas e quis mudar à vera, já anulando a diminuição de downforce no carro com diferentes soluções aerodinâmicas logo de cara. Na parte da engenharia, brilhante e parte do que faz a Mercedes dominar de maneira tamanha há tanto tempo. Mudou. A nova concepção mostrou ter problemas graves no Bahrein.
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A Mercedes sofreu com confiabilidade: quebras no motor e no câmbio, alterados também para atuar nessa anulação da diminuição de pressão aerodinâmica. O câmbio é exigido demais e, como efeito, superaquece. O redesenho fez a traseira se tornar incontrolável. Tanto Hamilton quanto Valtteri Bottas tiveram problemas para manter o carro em velocidade e na pista ao mesmo tempo durante os testes – Lewis chegou a rodar. O chefe Toto Wolff falou que a Mercedes encontrou “cabelo na sopa” e Andrew Shovlin, diretor de engenharia, afirmou que a traseira é “fraca”. Antes dos testes já haviam falado em dificuldades na unidade de força, que tem um motor de recuperação de energia totalmente refeito após alguns defeitos de 2020.
A decisão de mudar demais, de inovar sempre, é um cobertor curto: você vive e morre por ela. Pela primeira vez em oito anos, agora, a Mercedes dá pistas de que talvez tenha errado a mão e que as mudanças na traseira foram o cochilo da lebre, que deixou a tartaruga ultrapassar e tomar vantagem.
A Red Bull, touro vermelho, não é bem uma tartaruga ou um jabuti que seja, mas é quem se aproveita. Não há esconderijo de qualidades que explique o que aconteceu no Bahrein. Os rubro-taurinos foram mais rápidos em ritmo de classificação, de corrida – algo que a própria Mercedes admitiu -, não passou por problema de confiabilidade algum, andou mais e fez absolutamente todos os testes que gostaria.
A alta capacidade de compreensão e desenvolvimento da Mercedes, assim como o direito adquirido do benefício da dúvida, não permitem apostar fichas em outra campeã neste período do ano. Mas a Red Bull indica, sim, que começa o ano em alguma vantagem, ainda que frágil. E, muito mais que isso, indica que tem briga. A briga entre equipes que há tanto o público quer ver.
O GRANDE PRÊMIO preparou um GUIA 2021 com tudo que é preciso saber sobre a temporada que começa em 28 de março, que terá cobertura completa dos treinos livres, classificação e corrida. Tudo acompanhando ao vivo e em tempo real. Além disso, o GP faz a análise da definição do grid de largada no sábado e tem ainda o pré e pós-corrida no domingo, sempre no BRIEFING, na GPTV.