GUIA 2025: Com Bortoleto, Sauber acerta na dupla, mas problemas vão muito além no adeus
Ter uma boa dupla de pilotos nem sempre é sinônimo de sucesso. A Sauber acertou nas contratações para 2025, com a experiência de Nico Hülkenberg e a juventude de Gabriel Bortoleto, mas vive problemas muito mais profundos no ano de despedida da Fórmula 1
Depois de mais uma temporada tenebrosa em 2024, a Sauber está diferente para a F1 2025. No último ano sob o tradicional nome antes de virar equipe de fábrica com a Audi, a equipe suíça trocou Valtteri Bottas e Guanyu Zhou por Nico Hülkenberg e Gabriel Bortoleto, fortalecendo bastante o combo experiência e juventude que já caracterizava a dinâmica interna. O problema, no entanto, vai muito além da dupla de pilotos, e é isso que o time precisa responder a partir do GP da Austrália.
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Com 4 pontos somados ao longo de 24 corridas no ano passado, a Sauber contou com um único oitavo lugar de Zhou no Catar para sair do zero. Definitivamente, prestes a adotar nome e identidade de uma das maiores montadoras do mundo, a Audi, o desempenho foi uma vergonha alarmante. E, ainda em 2024, o tabuleiro começou a ser mexido para reverter o que se provou claramente um caminho equivocado.
Primeiro, Mattia Binotto chegou para colocar ordem na casa e encerrar a treta ególatra entre Andreas Seidl e Oliver Hoffmann, ambos demitidos. Dias depois, Jonathan Wheatley foi tirado da Red Bull para assumir como chefe em 2026, mas acabou confirmado no posto para 2025. Desde então, rolou alfinetada no trabalho do antecessor e meta de disputar o título em 2030, mas o trabalho na pista está muito longe de mostrar isso.

A dupla de pilotos, por sua vez, é o único ponto de calmaria da Sauber neste momento. Com um carro inquieto, difícil de gerenciar e com uma curtíssima janela de funcionamento, Hülkenberg carrega a experiência de quem já completou 227 corridas na Fórmula 1 e Bortoleto surge como o primeiro a levar F2 e F3 nos anos de estreia desde Oscar Piastri. É, indiscutivelmente, um dos melhores jovens talentos do grid.
Para 2025, os dois vão precisar de um carro que dê alguma condição de buscar pontos, algo que não aconteceu no ano passado. O primeiro passo é fugir da alcunha de ‘equipe zumbi’ e construir em cima do crescimento mostrado na reta final do último campeonato, quando Zhou conseguiu buscar os pontos pela primeira e única vez em 2024. E a pré-temporada não indicou grandes sinais de que isso vai acontecer.
Na pré-temporada do Bahrein, o carro da Sauber atraiu uma especial atenção negativa em relação às chicoteadas, que aconteceram tanto com Hülkenberg quanto com Bortoleto. Nas câmeras onboard, foi possível observar as dificuldades dos pilotos no controle da C45, que exigiu correções constantes nas entradas e saídas de curva. O prognóstico não foi positivo.
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Das dez equipes do grid, a Sauber foi a terceira que menos andou nos testes coletivos, com 354 voltas, mas a que menos esteve na pista (Red Bull, com 304) certamente estará em outro nível de competição. Ou seja, dos times mais próximos na ordem de forças, só a Aston Martin (306) teve menos tempo de pista que o time suíço. Da chamada ‘F1 B‘, todas as outras levaram vantagem: Haas (457), Racing Bulls (454), Alpine (405) e Williams (395).
O caminho até o mínimo de competitividade ainda é longo, e Hülkenberg e Bortoleto só conseguem ajudar até certo ponto com o desenvolvimento do carro. A impressão de momento sobre o início do campeonato, inclusive, não indica que a Sauber esteja na briga pelos pontos. E a primeira meta deve ser exatamente essa: emular a Alpine de 2024 e conseguir, ao menos, dar passos à frente que a levem ao top-10 aqui e ali.
Neste cenário, entra ainda outra questão importante: até que ponto vale a pena focar em 2025? Com um novo regulamento pronto para estrear em 2026, trazendo novos motores e um chassi repaginado, a pior equipe do grid pode ser a primeira a virar suas atenções para o ano que vem. Certamente, Hülkenberg e Bortoleto já assinaram contrato pensando na próxima geração de regras, e não em um sucesso milagroso na temporada que se aproxima.
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Esse é mais um dos dilemas que Binotto e companhia terão de lidar em 2025. Se o caminho rumo aos pontos for considerado árduo demais logo no início, não seria surpreendente ver a Sauber virar o foco para 2026 — o que não seria terrível para Bortoleto, que teria um ano mais focado na aclimatação à Fórmula 1.
Para o brasileiro, a temporada de estreia não é sobre resultados. É claro que levar o deficitário carro verde ao pódio elevaria imediatamente o nome de Bortoleto no esporte, mas o foco é nítido: acompanhar (e, se possível, vencer) Hülkenberg. Como líder técnico e experiente da equipe, o alemão será o parâmetro principal para o sucesso do jovem na Fórmula 1 — principalmente em um carro que não pontua.
Em 2025, mais do que nunca, a Sauber precisa dar algum indício de que pode evoluir antes de virar Audi, seja com o carro deste ano ou investindo tudo em 2026. Esse processo de estruturação, muito mais problemático e lento do que deveria ser, já vai causar um déficit forte no primeiro ano da marca das argolas no grid. Neste momento, a questão se tornou mais sobre evitar uma vergonha do que propriamente buscar algum destaque.

