No quarto capítulo da série Rumo à Glória, o GRANDE PREMIUM conta a história de Diogo Moreira, que foi descoberto por Alex Barros em uma pista de motocross e hoje se destaca no Mundial de Moto3 com apenas oito anos de experiência na motovelocidade

Para todo fã da velocidade, não há prazer maior senão ouvir o hino nacional em um pódio. Ayrton Senna talvez seja o maior exemplo: correu na Fórmula 1 mais de 30 anos atrás, mas, a cada prova em Interlagos, deixa aquele gostinho de saudade — dos mais nostálgicos aos mais novos apaixonados. E, na motovelocidade, não é diferente. A MotoGP não tem a presença de um brasileiro no grid há muito anos, mas contou com alguns poucos pilotos ao longo da história, que marcaram a categoria e representaram muito bem o país. Um deles é Alexandre Barros. 

Ele foi o segundo brasileiro a vencer no Mundial — o primeiro foi Adu Celso, conhecido como Índio Brasileiro, em 1973, nas 350cc —, mas o primeiro e único a triunfar na categoria principal. Pela Suzuki, o paulista conquistou a primeira de suas sete vitórias em 1993, nas então 500cc. Depois disso, foram outras cinco poles-position e 37 pódios, numa trajetória que se encerrou em 2007. É o principal nome do Brasil nas duas rodas.

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E esse mesmo Alex Barros é quem ajuda a pavimentar o caminho para que outros jovens brasileiros sonhem em chegar à classe rainha. Caminho esse que não começou no asfalto. Diogo Moreira é uma promessa para o futuro. Descoberto pelo ex-piloto, estreou na Moto3 nesta temporada, pela MSi. Tem 18 anos, mas começou a carreira quando tinha apenas quatro. E foi no motocross, categoria na qual chegou a ser campeão antes de migrar para o motociclismo.

Fui campeão brasileiro de motocross e do ArenaCross também, de 50 e 65cc. Depois, tive a oportunidade de testar motovelocidade junto com o Alex Barros e gostei bastante, gostei muito”, conta Diogo em entrevista exclusiva ao GRANDE PREMIUM. “Foi um privilégio para mim, uma experiência incrível. Poucas pessoas têm essa oportunidade de poder treinar com ele, estar na mesma equipe que ele. Eu acho que isso vai me ajudar muito para estes anos que estão por vir“, completa. 

Diogo Moreira estreou no Mundial neste ano (Foto: Red Bull Content Pool)

O motocross é uma porta de entrada comum. É uma modalidade que pode ser praticada ao ar livre ou em espaços fechados, com pistas montadas, por exemplo, dentro de estádios. O início da prática o Brasil foi bastante precário, até que, assim como aconteceu nos Estados Unidos, os brasileiros passaram a receber pilotos estrangeiros que introduziram avanços e motos de última geração.

É um universo diferente, mas que molda o piloto a sempre estar preparado, já que o circuito, feito de terra, muda constantemente. É o caso de Moreira, que nunca havia se questionado sobre ir para outra modalidade. E não foi fácil quando o fez.

Nunca tinha pensado em trocar a minha modalidade.Meu sonho era sempre correr no Mundial de Motocross e seguir a vida no motocross, então isso nunca tinha passado na minha cabeça. Quando tive essa oportunidade, também não pensei duas vezes. Foi bastante difícil, mas com os treinos e as corridas, isso me ajudou muito, então me acostumei rápido. E eu sou um piloto também que, se troco de moto ou de categoria, eu me acostumo muito rápido, então acho que isso me ajudou bastante. Mas o motocross é um bom treino, é um bom treino para estar bem fisicamente para as corridas, pois no motocross, a pista muda a cada volta, então isso ajuda muito também“, comenta.

A vida de Diogo começou a mudar rapidamente após o vínculo com Barros. Então parceiro da cervejaria Estrella Galicia ― que tinha chegado ao Brasil trazendo na bagagem o desejo de repetir aqui o apoio que dá ao esporte a motor na Europa —, o programa criado pelo ex-piloto previa um intercâmbio na Europa, justamente com a Monlau, a famosa escola-técnica que apoiou os primeiros passos de Marc Márquez na carreira.

No ano passado, ele disputou a Red Bull Rookies Cup (Foto: Red Bull Content Pool)

A Monlau foi uma grande escola e um grande aprendizado para mim. Nunca tinha pensado em chegar nessa estrutura, então acho que me ajudou bastante nos primeiros anos. Foi um pouquinho difícil me acostumar com tudo aqui na Espanha, mas com o passar dos dias, eu fui me adaptando melhor e sempre melhorando“, lembra ele.

Com apenas 13 anos, ele embarcou para o Velho Continente, em 2017, para competir na categoria 85GP, dentro do CEV (Campeonato Espanhol de Velocidade). Aos poucos, foi subindo: em 2021, disputou o Mundial Júnior de Moto3 e a Red Bull Rookies Cup. No campeonato de origem espanhola, o brasileiro foi 12º, enquanto na série apoiada pela empresa dos energéticos, ficou em sexto, depois de perder duas etapas por ter contraído Covid-19.

Acho que aprendi muito com os dois campeonatos e as diferenças entre as duas motos. Onde eu mais me sentia bem em cima da moto era na Red Bull. Acho que a KTM, para mim, é uma moto que eu consigo me desenvolver melhor e é uma moto melhor para o meu estilo de pilotagem, mas acho que consegui aprender muito nos dois campeonatos”, enfatiza.

No ano passado, o GP apurou que Moreira chegou a negociar para correr pela Red Bull KTM Ajo na Moto3, mas as tratativas com Aki Ajo não avançaram. Embora tenha recebido ainda outras ofertas, o projeto da MSi foi considerado “muito bom”. E, após 11 etapas, ele já surpreendeu com o time. Embora sem pódios, ele passou diversas corridas perto de terminar entre os três primeiros, chegando até mesmo a flertar com vitórias. É 15º colocado no geral, mas segundo melhor entre os estreantes de 2022.

Só que, logo em sua temporada de estreia, Diogo sofreu a primeira lesão séria. Foi no GP da Itália, oitava etapa do ano. Após chegar a liderar a prova em Mugello por diversas voltas, o #10 da MSi caiu na curva final, ao ser ejetado depois de um toque com Riccardo Rossi na Bucine.

Ele sofreu fratura no punho esquerdo e, por mais que tenha tentado voltar para o GP da Catalunha pouco depois de uma operação, acabou ficando fora até a etapa na Alemanha. 

Acho que foi um começo muito bom. Eu não esperava estar tão na frente no campeonato e nas corridas. Depois da minha lesão, foi um pouquinho difícil voltar ao ritmo com que eu comecei o ano, mas agora com essa parada do verão, acho que a gente está melhor do que no começo da temporada, então acho que a gente pode fazer uma boa segunda parte do campeonato agora”, analisa.

Diogo Moreira iniciou a carreira no motocross (Foto: Arenacross)

Segunda parte essa que começa no dia 7 de agosto, na Grã-Bretanha. Após um período de descanso, o Mundial volta à ativa para as nove corridas restantes. E é também um período em que as equipes costumam bater o martelo em relação aos seus pilotos. Diogo acredita que pode fazer melhor neste segundo semestre. E, ainda que não tenha nada concreto, ele não nega que há ofertas e um plano bem estipulado: estrear, ganhar experiência e disputar o título em 2023.

Ainda não tenho nada certo para o ano que vem. Tenho muitas ofertas, mas acho que vou ficar mais um ano na Moto3. Este ano para terminar é um ano de aprendizado e o ano que vem é para tentar ganhar o campeonato”, ressalta.

A caminhada é longa. Mas Diogo vê de perto ídolos que foram crescendo aos poucos, até chegarem ao topo. Um deles é Marc Márquez. O multicampeão deu seus primeiros passos com a Monlau. Hoje, com apenas 29 anos, é referência no motociclismo e inspiração para o jovem piloto de São Paulo. “Meu ídolo sempre vai ser o Marc Márquez, um piloto que eu sempre acompanhei desde que eu comecei na motovelocidade. E eu sempre vou me inspirar nele. É bom que às vezes eu treino com ele também e acho que isso ajuda muito“, fala.

Barros deixou o Mundial em 2007, Moreira começou em 2022. Exatos 15 anos separam o maior expoente do motociclismo brasileiro e a promessa para o futuro. Uma responsabilidade, que hoje Diogo compartilha apenas com Eric Granado, o outro único brasileiro na estrutura do Mundial de Motovelocidade, já que é titular da LCR na Copa do Mundo de MotoE. 

É uma responsabilidade grande representar meu país, mas acho que fazendo o trabalho certo, a gente pode chegar longe, eu e o Eric Granado, então acho que o Brasil está contente com isso. Espero que a gente possa dar o nosso melhor sempre e trazer muitas vitórias“, encerra. 

Pai: o primeiro mestre

Assim como muitos jovens, Diogo foi levado ao esporte pelas mãos do pai. Luiz Antonio do Nascimento disputava campeonatos regionais de motocross e logo colocou um ponto final na carreira para guiar os passos do filho.

“Eu comecei no motocross através do meu pai. Meu pai fazia corrida de motocross e foi aí que começou a minha paixão pelo motociclismo, conta Diogo ao GRANDE PREMIUM. “Com três anos, eu comecei a treinar motocross. Com quatro, eu já competia. A partir daí, meu pai deixou de correr e veio me ajudar em todas as corridas”, segue.

Não demorou para que Luiz notasse o talento Diogo. Ainda bem novinho, o pai percebeu que o menino nascido em 23 de abril de 2004 era apaixonado pelas duas rodas.

“Quando ele tinha sete anos”, responde Luiz ao ser questionado pelo GP* sobre quando percebeu o talento do filho.  “Como ele já estava competindo desde os cinco anos, notei que ele era apaixonado pelas motos”, acrescenta.

A carreira, porém, mudou completamente de rumo quando Alex Barros entrou em cena. Luiz, contudo, não temeu confiar o filho nas mãos do maior expoente do motociclismo brasileiro. Afinal, sabia que o motocross brasileiro não vivia um momento tão vigoroso assim.

“Não tive medo. O Diogo já estava indo bem no motocross,  mas eu sabia que o motocross no Brasil não ia muito bem”, conta. “Em nível de patrocínio para evolução de pilotos”, detalha.

O jovem piloto faz parte de um programa de Alex Barros (Foto: Reprodução)

“Aí surgiu um teste como Alex Barros. E nós decidimos mudar de categoria, indo do motocross para a motovelocidade depois do teste com Alex Barros”, explica. “No começo foi difícil, mas pouco a pouco foi melhorando. Hoje tenho a certeza que foi o melhor”, defende.

“E seguimos treinando motocross e outras  modalidades”, aponta.

Nascimento ainda guarda na memória o primeiro contato de Moreira com a motovelocidade. Naquela época, o jovem piloto ainda era conhecido por Dioguinho e tinha dificuldades até mesmo para lidar com o tamanho da moto.

“A moto era muito grande para o Diogo. E ele tinha dificuldades para sair e para virar a moto. Tinha de segurar a moto para sair”, recorda Luiz. “Mas era bonito ver ele em outra modalidade”, comenta.

O sucesso no mundo do asfalto chegou rápido, em um intervalo de só oito anos desde a troca do motocross pela motovelocidade, mas a surpresa dos bons resultados não tiram de Luiz uma certeza: “Foi trabalho para chega ao Mundial. Muito trabalho”.

A ida para a Europa, prevista desde o início do projeto com Barros, foi um desafio para pai e filho, que foram juntos para o Velho Continente.

“Eu vim com ele para Espanha e estou até agora acompanhando. Mas a adaptação foi muito difícil, porque nós não falamos o idioma. A cultura é muito diferente da nossa. Os estudos do Diogo. Os treinos com motos, só tinha uma moto para motocross”, listou. “Foi muito difícil, mas hoje, graças a Deus, já nos acostumamos”, comemora.

Por fim, ao ser questionado pelo GRANDE PREMIUM se também se surpreendeu com a forma exibida por Diogo na primeira parte da temporada 2022 da MotoGP, Luiz foi claro: “Na verdade, foi melhor do que eu imaginava”.

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