Da declaração de Ecclestone ao movimento por justiça: tudo sobre o caso Massa 2008

No dia em que o maior escândalo de manipulação de resultados da F1 completa 15 anos, o GRANDE PRÊMIO faz um apanhado da busca de Felipe Massa pelo reconhecimento do título de 2008. O brasileiro se sente "vítima de conspiração” e pretende discutir na justiça as decisões tomadas em 2008, depois do acidente proposital de Nelsinho Piquet em Singapura

Há exatos 15 anos, Nelsinho Piquet rodou e bateu forte na volta 14 do GP de Singapura. O acidente trouxe o safety-car à pista e beneficiou diretamente Fernando Alonso, que ganhou a corrida. Ambos eram companheiros de equipe na Renault. Um ano depois, veio à tona a verdade sobre aquele episódio: o filho do tricampeão havia batido de propósito, para ajudar o colega espanhol a vencer. Tudo isso em um plano idealizado pelos chefes da esquadra francesa, Flavio Briatore e Pat Symonds. A história foi investigada à época. Os dois dirigentes foram punidos, enquanto os pilotos saíram ilesos. Só que uma declaração de Bernie Ecclestone neste ano reavivou o caso que agora pode parar nos tribunais, uma vez mais. Pelas mãos de Felipe Massa.

Massa se vê “vítima de uma conspiração” e tem como plano revisar os acontecimentos daquele final de década. O brasileiro de 42 anos busca uma reparação e o título daquela temporada, nem que seja necessário ir à Justiça.

O GRANDE PRÊMIO faz um apanhado de como a situação se desenrolou a partir da polêmica entrevista do ex-mandatário da Fórmula 1 até a decisão de Felipe em buscar o reconhecimento do título de 2008, em que ele perdeu para Lewis Hamilton, em uma temporada equilibrada e teve uma das definições de campeonato mais acirradas da história da maior categoria do esporte a motor.

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Bernie Ecclestone é uma das figuras mais polêmicas da história da F1 (Foto: Reprodução)

No início de 2023, Ecclestone, que comandou a F1 por mais de 40 anos, deu entrevista ao site alemão F1 Insider e revelou que já sabia do chamado Crashgate ainda em 2008, mas que decidiu não expor a informação para proteger a imagem do Mundial. E foi mais longe: afirmou também que considera Massa como o legítimo campeão mundial.

O britânico, hoje com 92 anos, disse que “sentia muito por Felipe” e que considerava apenas “Michael Schumacher como heptacampeão” por conta do que aconteceu em Marina Bay. “Max Mosley [então presidente da FIA, já morto] e eu fomos informados do que acontecera em Singapura durante a temporada 2008. Piquet contara para o pai, Nelson, que recebera o pedido da equipe de bater propositalmente no muro em determinado momento para forçar uma intervenção do safety-car e, assim, ajudar o companheiro de equipe Alonso”, contou.

“Decidimos não fazer nada naquele momento. Queríamos proteger o esporte e evitar um escândalo. Foi por isso que falei, com uma língua de anjo, para meu antigo piloto Nelson [Ecclestone foi chefe de equipe de Piquet na Brabham, nos anos 1980], para manter a calma inicialmente”, revelou.

Ecclestone ainda reconheceu que teria tomado decisões diferentes hoje em dia. “Ainda sinto pena de Massa”, afirmou à publicação alemã. “Ele venceu a corrida final em sua corrida de casa, em São Paulo, e fez tudo certo. Foi roubado o título que merecia, enquanto Hamilton teve toda a sorte do mundo e venceu seu primeiro campeonato.”

“Hoje eu teria resolvido as coisas de forma diferente”, alegou. “É por isso que, para mim, Michael Schumacher ainda é o único recordista. Mesmo que as estatísticas digam o contrário.”

Bernie Ecclestone pediu calma a Nelson Piquet sobre o que tinha acontecido em Singapura (Foto: Reprodução)

Essa afirmação provocou imediata revolta de Massa. Rebatendo o ex-dirigente, em março último, o piloto se disse triste com a situação e afirmou que o caso era grave e inadmissível. A partir deste momento, Felipe demonstrou o desejo de revisar o resultado do campeonato, inclusive por meio de ação na justiça. E assim foi.

O primeiro passo foi formar um grupo jurídico para lidar com o caso. O piloto reuniu advogados no Reino Unido, Brasil, Estados Unidos, Suíça e França para proceder uma ação judicial contra a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a Formula One Managament (FOM), por danos substanciais resultantes de uma suposta “conspiração” na disputa do Mundial de 2008 da Fórmula 1, quando foi derrotado por Hamilton. A defesa do piloto enviou carta às entidades antes do ajuizamento da ação. Essa informação se tornou pública em meados de agosto.

“O. Sr. Massa é incapaz de quantificar totalmente suas perdas nesta fase, mas estima que elas provavelmente ultrapassarão dezenas de milhões de euros. Este valor não cobre as graves perdas morais e de reputação sofridas pelo Sr. Massa”, completou o documento, endereçada a Stefano Domenicali, diretor-executivo da F1, e a Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA.

A notificação também advertiu que, sem uma resposta satisfatória, Massa pretendia “entrar com uma ação judicial a fim de buscar uma reparação pelos danos sofridos, bem como o reconhecimento de que, se não fosse pelos atos ilegais, teria recebido o prêmio de campeão mundial de 2008”.

Apesar do aviso, as duas entidades não forneceram as respostas pedidas no prazo estabelecido pelos advogados de Massa. FIA e FOM alegaram falta de tempo para entender a situação e devolver as explicações. Pediram mais algumas semanas.

Domenicali foi chefe de Massa na Ferrari e hoje é o CEO da F1 (Foto: F1)

Mais tarde, o corpo jurídico concordou em ampliar o prazo para as respostas. Primeiro, até início de setembro e, agora, outubro. De acordo com a imprensa internacional, Massa deseja uma resposta rápida porque está preparado para iniciar ações legais em outras jurisdições – mas prefere esperar as respostas de FIA e da FOM.

Nesse meio tempo, a F1 visitou a Itália, para a corrida em Monza. O comando do Mundial pediu a Felipe para não ir à prova — o brasileiro é embaixador da categoria e participa com frequência das transmissões e programas especiais. Desde então, o piloto não compareceu mais às etapas — também por compromissos com a Stock Car, em que disputa a temporada 2023. Ainda assim, alguns torcedores da Ferrari estamparam uma faixa nas arquibancadas, em apoio a Massa. A F1 proibiu a manifestação.

Enquanto isso, Massa deu algumas declarações sobre o caso, revelando que espera o apoio da Ferrari. “Tenho uma certeza: aquele título é meu, e é o 16º título de Pilotos da Ferrari”, falou em entrevista à emissora italiana TG1TV. “Contratei uma equipe de advogados muito forte. Vamos lutar até o fim para obter justiça neste esporte”, emendou.

O único comentário da equipe até o momento, no entanto, veio do chefe Frédéric Vasseur, que disse “não ser fã de mudar resultados“.

Hamilton também foi questionado sobre os planos de Felipe. Mas não quis se aprofundar no assunto. “Estou muito focado no agora e em como posso ajudar meu time a voltar a brigar por vitórias e pelo campeonato. Não ligo para o que aconteceu há 15 anos”, minimizou o inglês da Mercedes, que venceu o mundial de 2008 por 1 ponto de diferença para Massa, mas que nada teve a ver com o episódio de Singapura.

Ecclestone, por sua vez, foi novamente perguntado sobre o caso, mas, desta vez, disse não se lembrar da entrevista e criticou o brasileiro, afirmando que a decisão de ir à justiça é somente por dinheiro. Massa rebateu.

‘Felipe Massa, campeão do mundo de 2008’ é o que diz a faixa colocada por torcedores em Monza (Foto: Reprodução/Twitter)

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“Bernie só resolveu falar algo depois que viu a seriedade do nosso caso e que não vamos aceitar essa mancha no esporte. Provavelmente, está com receio de tudo que virá à tona com os processos. Não importa: como já dissemos várias vezes, nosso objetivo é o troféu. Seguimos com nossa batalha pela justiça do esporte”, afirmou o piloto.

O último movimento público sobre a empreitada dá conta de que os advogados do brasileiro enviaram notas de preservação para Ferrari, Alpine [antiga Renault], o banco ING, Flavio Briatore, Pat Symonds e Steve Nielsen. Essa ação serve para que os envolvidos na situação tomem medidas para evitar a destruição ou qualquer modificação em documentos relacionados ao tema do potencial litígio, do qual Massa move ação.

Enquanto isso, nomes de peso do grid da F1 acompanham o desenrolar do caso. Chefe da Mercedes, Toto Wolff afirmou que segue com “interesse”, mas entende que a manobra de Felipe pode provocar uma “desordem” ao esporte. Já o CEO da McLaren, Zak Brown, revelou expectativa sobre o episódio, mas deixou claro que nada disso afeta da equipe neste momento — importante dizer que Hamilton defendia o time inglês em 2008.

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