Ducati pode — e deve — usar ordens de equipe na MotoGP. Mas sem queimar plano B

Com Francesco Bagnaia firme na luta pelo título, faz sentido que a Ducati coloque outros pilotos do esquadrão para protegê-lo e apoiá-lo na briga com Fabio Quartararo, mas é preciso limitar o alcance dessas ordens no que diz respeito a Enea Bastianini e Jack Miller. Afinal, ambos seguem vivos na briga pelo título da MotoGP

A Ducati chega à reta final da temporada 2022 da MotoGP ouvindo uma única frase: ‘e as ordens de equipe?’. Tem que ache que passou da hora de a casa de Borgo Panigale colocar todo o elenco para trabalhar em favor de Francesco Bagnaia, mas também tem aqueles que pensam na pureza do esporte e que defendem que é mais justo deixar que o piloto de Torino enfrente Fabio Quartararo sozinho.

Antes de mais nada, vamos aos fatos: restam apenas três GPs para o encerramento da MotoGP 2022: Austrália, Malásia e Comunidade Valenciana. O francês da Yamaha segue na liderança, mas, depois de um fim de semana sofrível na Tailândia, tem só dois pontos de vantagem para o adversário.

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Francesco Bagnaia está dois pontos atrás de Fabio Quartararo (Foto: Ducati)

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Além disso, outros fatos precisam ser trazidos à baila: a marca dos três diapasões tem quatro motos no grid, mas a performance de Quartararo é infinitamente superior à dos colegas de marca. Enquanto ‘El Diablo’ lidera o campeonato, Franco Morbidelli aparece só em 19º, com 31 pontos. Andrea Dovizioso, que se aposentou após o GP de San Marino e da Riviera de Rimini, é o 21º, logo à frente de Darryn Binder, o novato que veio direto da Moto3 para compor a RNF. Cal Crutchlow, que se desaposentou para assumir a YZR-M1 de Dovi após Misano surge em 25º, com três tentos.

A casa de Bolonha, por outro lado, tem oito motos e dá até para dizer que a performance entre os pilotos é mais equilibrada. Pecco é o vice-líder do Mundial de Pilotos, Enea Bastianini tem a quarta posição, com Jack Miller surgindo em quinto. Johann Zarco é o sétimo, Jorge Martín aparece em nono e Luca Marini é o décimo. Com motos do ano passado, Marco Bezzecchi é o 14º e Fabio Di Giannantonio o 20º.

Só que tem mais. O último título da Yamaha data de 2021, justamente com Quartararo, enquanto a derradeira conquista da Ducati é também a primeira — e única, para deixar bem claro — e data de 2007, com Casey Stoner.

Ou seja, a marca comandada por Claudio Domenicali amarga um jejum de 15 anos e, ao menos nas últimas três temporadas, colocou na pista a melhor moto do pedaço. Afinal, foi ela a campeã do Mundial de Construtores.

Sendo assim, a Ducati precisa fazer tudo que está ao alcance dela para assegurar a conquista do Mundial de Pilotos. Só que até neste tudo, é preciso existir algum limite.

Com 75 pontos ainda em disputa, Enea Bastianini e Jack Miller seguem vivos na briga pelo título. Eles estão a 39 e 40 pontos do líder, respectivamente. Seria justo colocá-los para trabalhar para Pecco quando eles próprios ainda podem colocar o nome na Torre dos Campeões? Ok, deixemos de lado a justiça e o desejo por glória pessoal, seria prudente? A classe rainha do Mundial de Motovelocidade nunca teve um campeão com cinco abandonos no ano, justamente o que Francesco registrou até aqui. Enea soma quatro — Franco Uncini foi campeão em 1982 com quatro abandonos e Mick Doohan venceu em 1992 com a mesma estatística. Miller acumula duas corridas não completadas.

Seria inteligente da Ducati já sacrificar o que poderiam ser planos B e C? Ressaltando, claro, que um título de Bastianini não seria exatamente a realização do sonho vermelho, já que se trata de uma equipe satélite, mas, depois de um jejum de 15 anos, acho que todos concordamos que é melhor ganhar com um piloto privado do que perder para um concorrente mais uma vez, não?

Mas mesmo com Bastianini e Miller, existem coisas que podem ser feitas. E já foram, aliás. A Ducati conversou com os pilotos e deixou claro que as disputas que envolvem Pecco devem ser feitas com cuidado. Ninguém pode reeditar Andrea Iannone na Argentina e derrubar Pecco na linha de chegada para tentar vencer. Dá para vencer? Ok, vença, mas não ao custo de uma queda dele. É justo, prudente e racional. E ainda deixa todo mundo feliz.

No caso dos demais pilotos, é hora, sim, de barrar acesso à Pecco. Ninguém mais pode dar combate ao italiano. Não se trata de proteger a conquista individual de Bagnaia, mas, sim, de salvaguardar um empenho de anos da marca. O investimento milionário que culminou na melhor moto do grid.

Gostar de ordens de equipe eu também não gosto, mas, na posição da Ducati, o risco é excessivamente alto. Bagnaia já cometeu todos os erros que podia em 2022 e não tem margem para nenhuma bobagem mais.

Algumas pessoas torceram o nariz para a postura de Johann Zarco, que optou por não atacar, já que não valia a vitória. Mas o francês estava certo. Não valia o risco. Errado estava Jorge Martín, que saiu declarando que “eu teria brigado pelo pódio”. O espanhol tem 92 pontos de atraso na classificação, está completamente fora da disputa. Não é à toa que foi preterido pela Ducati na escolha para 2023. Afinal, é preciso pensar mais além do próprio umbigo. E ele não parece disposto a fazer isso.

Restando só três corridas, a Ducati precisa se equilibrar entre poder — e também dever — aplicar ordens de equipe, mas também não queimar os planos B e C. Afinal, como diz o ditado, o seguro morreu de velho.

A MotoGP volta às pistas no próximo dia 13, para o primeiro dia de treinos livres para o GP da Austrália, em Phillip Island. O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do Mundial de Motovelocidade 2022.

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