Retrospectiva 2022: Em outro patamar, Vettel dá adeus à F1 e deixa exemplo de humanidade

A temporada 2022 da Fórmula 1 não registrou um ano histórico apenas pela revolução técnica encarada pela categoria, talvez a maior dos últimos 40 anos, mas também por uma despedida que deixará apenas saudades para os amantes do automobilismo: com quatro títulos mundiais na bagagem, Sebastian Vettel deixou o esporte aos 35 anos, após mais um ano decepcionante com a Aston Martin. E sua ausência será amplamente sentida no paddock, dentro e fora das pistas.

O que dizer de alguém que disputou 299 corridas, venceu 53 delas, foi ao pódio 122 vezes, conquistou quatro títulos mundiais e ainda assim será lembrado pelo que fez fora do traçado? Não que a carreira de Vettel tenha sido mediana — muito pelo contrário —, mas o fato é que a capacidade de posicionamento do alemão é realmente aquilo que o difere de todos os outros.

Vettel deixou uma profunda marca na F1. Não apenas por tudo que fez dentro de um carro, principalmente durante os quatro anos mágicos na Red Bull entre 2010 e 2013, mas por mostrar que um esportista de altíssimo nível pode se preocupar com questões externas a si mesmo, questões que nem sempre são tão debatidas — ou sequer conhecidas — como deveriam. Acima de tudo, ‘Seb’ foi um exemplo. E daqueles que significam uma grande perda para quem o vê indo embora.

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Em relação ao rendimento, a última temporada de Vettel na F1 terminou longe da altura que o piloto alcançou na categoria. Em mais um ano abaixo da crítica, a Aston Martin seguiu sua sina de pontuar menos a cada temporada desde que terminou na quarta posição, ainda como Racing Point, em 2020, e não passou dos 55 tentos em 2022 — o que rendeu apenas o sétimo lugar entre os Construtores.

Fora das duas primeiras corridas do campeonato, em Bahrein e Arábia Saudita, por ter contraído Covid-19, o veterano não teve problemas para despachar Lance Stroll na concorrência interna: foram 37 pontos para o alemão, 12º colocado, enquanto o canadense ficou com 18, na 15ª colocação. Como melhores resultados, Vettel conquistou dois sextos lugares, em Azerbaijão e Japão.

Ainda que a superioridade interna tenha sido óbvia, ainda é muito pouco para quem se acostumou a correr no topo da Fórmula 1. A última temporada de Vettel na categoria ficou mais marcada pelos posicionamentos políticos do piloto do que pelos feitos dentro das pistas, já que o conjunto da Aston Martin raramente o permitia sonhar mais alto.

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Sempre engajado em causas sociais importantes, Vettel não se furtou de bater de frente com a Fórmula 1 em diversas ocasiões, inclusive usando uma cueca sobre a própria roupa para protestar contra as proibições desnecessárias da direção de prova.

Em Miami, o piloto alemão destacou a crise climática no planeta, afirmando que a etapa estará “submersa” até 2060; na Áustria, ‘Seb’ chamou atenção para o aumento preocupante na mortalidade das abelhas, algo que pode afetar todo o ecossistema devido ao uso de compostos químicos; e no Canadá, o alemão pediu foco na exploração invasiva das areias betuminosas de Athabasca.

Essas ações apenas se somam a muitas outras produzidas pelo alemão desde o ano passado, como o protesto por igualdade racial no esporte, o pedido por mais chances às mulheres no automobilismo durante a visita à Arábia Saudita — um dos países mais conservadores do mundo e marcado por violações constantes aos direitos humanos de minorias —, além da camisa a favor do público LGBTQIAP+ e a troca de farpas com Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA.

No fim das contas, Vettel entendeu que usar a plataforma de um tetracampeão mundial de Fórmula 1 pode ser vital para ajudar nos problemas do mundo, já que milhões de pessoas o acompanham diariamente — e mais importante, realmente escutam o que ele fala. Não é à toa, inclusive, que o piloto tenha decidido anunciar sua aposentadoria em seu primeiro post oficial no Instagram, algo que não possuía até 2022.

Os números são imutáveis, os momentos inesquecíveis e os títulos marcantes, mas a verdadeira ausência de Vettel será sentida também fora das pistas. O homem que optou por não fazer apenas o simples, o básico, e fez todo o possível para tentar dar voz àqueles que não possuem seu status. Um raro exemplo de piloto fora de sua bolha, ‘Seb’ deixará alguns simplórios felizes por sua partida — para aqueles que acreditam que o esporte se mistura às nuances e aos problemas da sociedade, entretanto, sua ausência será para sempre sentida.

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