Retrospectiva 2024: Red Bull escora na magia de Verstappen e sofre com ‘tormenta Pérez’
No que diz respeito ao rendimento dos pilotos, Red Bull não poderia ter tido um 2024 mais dissonante entre os dois pilotos. Max Verstappen voou e Sergio Pérez sofreu
A temporada 2024 da Red Bull na Fórmula 1 mostrou uma realidade violentamente diferente na vida dos dois pilotos titulares, parte de um ano que, como um todo, foi esquisito. A piora do carro após as etapas iniciais desbloquearam a possibilidade de Max Verstappen fazer mágica. E assim foi. Mas Sergio Pérez, por outro lado, deu a prova final de que era preciso seguir em frente.
É preciso contextualizar o que foi a temporada da Red Bull para além dos pilotos. Antes mesmo dos carros tocarem a pista, o ‘Caso Horner’ balançou a vida na equipe. O CEO e chefe de equipe da Red Bull na F1 foi acusado internamente por comportamento inadequado por uma funcionária. Mesmo após ser liberado pela investigação da companhia, as coisas não se assentaram.
Horner iniciou uma guerra interna em que se colocou ao lado dos acionistas majoritários não-executivos da Red Bull, na Tailândia, contra a divisão executiva da Áustria, e Helmut Marko ao lado. Assim, o chefe, que parecia sob alto risco de demissão em fevereiro, acabou se tornando ainda mais poderoso e sobrepondo a Marko até em decisões sobre contratação e dispensa de pilotos.
A turbulência deixou marcas. Funcionários de cargos-chave na equipe passaram, ainda que sem atribuir à situação, a decidir por novos ares. Adrian Newey, projetista há 20 anos, foi para a Aston Martin; Jonathan Wheatley, diretor-esportivo, para se tornar chefe de equipe na Audi; Will Courtenay, diretor de estratégia, partiu rumo à direção técnica da McLaren.
Os ruídos internos começaram o campeonato longe das pistas. Para quem acompanhava as primeiras etapas, a sensação, quase certeza, era de que 2024 seria uma reedição do passeio dos rubro-taurinos no ano anterior. Dobradinhas no Bahrein e Arábia Saudita abriram o ano, com Verstappen na frente de Pérez. Na Austrália, uma prova de azar: Max abandonou logo no começo, com problemas no carro, enquanto Pérez foi punido por bloquear Nico Hülkenberg na classificação e viu o terceiro lugar do grid de largada virar sexto posto e, por fim, uma ausência no pódio. Mas em seguida, nova dobradinha, agora no Japão. Na China, quarta vitória de Verstappen em cinco corridas, com Pérez, desta feita, em terceiro.
Tudo caminhava à perfeição. Até aquele ponto era impossível imaginar que as coisas mudariam, mas mudaram rapidamente. Poucas corridas depois, a Red Bull já via a McLaren aparecer como rival de verdade, até mais forte em algumas pistas. Depois, também a Mercedes e, por fim, a Ferrari. O caldo, como dizem por aí, entornou.
Foi neste cenário de queda brusca de rendimento ou de perda do absoluto domínio que as coisas esquentaram. Verstappen tinha uma grande vantagem, é bem verdade, e precisava apenas saber como navegar uma Fórmula 1 multipolar para conquistar o quarto título do Mundial de Pilotos. Max ainda venceria os GPs da Emília-Romanha, Canadá e Espanha antes de um longo hiato com o qual o carro sofreu.
Mas mesmo durante os períodos mais duros, Verstappen conseguia se colocar nos pontos. Nunca ficou abaixo da sexta colocação, nem quando era punido, e mordiscava pódios aqui e acolá. Mais que isso, desfilava a conhecida magia pelas pistas em várias situações, sempre fazendo questão de marcar território quando encontrava de frente aquele que ficou rapidamente identificado como rival pelo caneco: Lando Norris. Na Áustria, por exemplo, o que era um duelo entre os dois pela vitória, com Lando vindo à captura do então tricampeão com carro superior, virou um encontrão para estabelecer bases do que teria de navegar. Norris levou a pior e nem pontuou, enquanto Verstappen terminou em quinto. A vitória ficou nas mãos de George Russell. Seria duro sempre que necessário.
O jogo duro de Verstappen apareceu novamente nos Estados Unidos e na Cidade do México, levantando até discussões sobre como os comissários deveriam julgar confrontos de roda com roda durante as corridas. O resultado das discussões, justamente entre as duas provas, foi um total de duas punições na etapa mexicana após o pega.
A situação no México, com a Red Bull instável e a McLaren de vento em popa, a F1 chegava ao Brasil com Verstappen em apuros. Pela primeira vez, Norris parecia ter de fato uma chance de dar o bote e mudar o destino do campeonato de mãos. Mas o que se viu em Interlagos, na pista molhada, foi um verdadeiro show. Punido e largando do fim do pelotão contra o adversário na pole, Max deu um show. Numa das grandes atuações da carreira, venceu de maneira implacável, com Norris em sexto. Era para sacramentar, ainda não matematicamente, o título mundial. E quebrar um jejum de dez corridas.
O título viria em Las Vegas, corrida seguinte, antes de mais uma vitória, agora no Catar. O mais incrível de tudo isso é que ainda que as cinco corridas de domínio da Red Bull na abertura do campeonato fossem excluídas e a pontuação, zerada, Verstappen ainda teria sido campeão mundial. A conquista do tetra termina por ser, assim, a mais contundente frente aos rivais e abafa os muitos problemas da Red Bull.
Pérez, por outro lado, potencializou os problemas. Jamais voltou ao pódio após o GP da China e, pelas 19 provas restantes no campeonato, esteve no top-5 uma única vez e ficou fora dos pontos em oito oportunidades. O resultado foi um pobre oitavo lugar no Mundial de Pilotos, com somente 77 pontos anotados após Xangai. Verstappen, em comparação, fez 327.
O resultado de Pérez na temporada foi o pior de um piloto da Red Bull titular na abertura do campeonato desde 2015, temporada em que a equipes dos energéticos tinha um carro evidentemente distante aos de Mercedes e Ferrari, com a Williams aparecendo forte também. Nem mesmo os Pierre Gasly, em 2019, que ficou por apenas meia temporada, terminou abaixo do sétimo lugar.
Mesmo com a precipitação que rendeu renovação com Pérez até o fim de 2025, manobra executada ainda no promissor começo de 2024, a Red Bull entendeu que já não dava mais para manter um piloto que classifica tão mal – foram nove quedas antes do Q3, sendo seis no Q1, em 24 GPs – e mostra imensas dificuldades para ultrapassar e se recuperar na corrida. Nem mesmo a defesa de Verstappen a Pérez teria como surtir efeito.
Nas semanas recentes, a situação de Pérez foi se pintando como cada vez mais insustentável. Até que a notícia esperada chegou na última quarta-feira: ‘Checo’ entrou em acordo para desfazer o contrato e deixar a Red Bull, que agora segue outra estrada.
A saída de Pérez significa também a ausência no grid da F1 em 2025 após mais de uma década presente. Que o fracasso do fim de festa na Red Bull não entre no caminho do reconhecimento da boa carreira que teve o mexicano. Se foi isso, se acabou a carreira dele na F1, ‘Checo’ parte como dono de uma trajetória invejável na categoria.
A Fórmula 1 está oficialmente de férias e dá adeus a 2024. A próxima atividade é a sessão de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, entre os dias 14 e 16 de março.
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