GUIA 2024: Yamaha muda para espantar conservadorismo e voltar a ser protagonista
Se as mudanças na moto não foram tão impressionantes quanto as que foram feitas por algumas das rivais, o trabalho nos bastidores é o que mais chama atenção na Yamaha. Buscando ser mais “aventureira”, a casa de Iwata contratou dois funcionários da Ducati, um deles para assumir o comando técnico e dar outro ritmo para a evolução da YZR-M1
A YAMAHA ESTÁ EM UMA CRUZADA CONTRA O CONSERVADORISMO NA MOTOGP. Insatisfeita com o próprio ritmo de desenvolvimento, a casa dos três diapasões promoveu mudanças internas, com a chegada de novos membros e uma postura ‘menos japonesa’ na condução da evolução.
Já há alguns anos, os pilotos se queixam da demora da Yamaha em apresentar inovações. Em um campeonato cada vez mais europeu, o ritmo de trabalho imposto por Ducati, KTM e Aprilia acabou por jogar as veteranas e vitoriosas marcas japonesas para escanteio. Em 2023, Yamaha e Honda ficaram com as duas últimas posições do Mundial de Construtores. Era preciso agir.
Ainda em 2022, a casa de Iwata recorreu a Luca Marmorini para trabalhar no motor. Única fábrica a usar quatro cilindros em linha, a Yamaha sempre teve a velocidade como calcanhar de Aquiles e os insistentes pedidos por mais potência levaram a marca a recorrer ao ex-chefe de motores da Ferrari na Fórmula 1.
Em um primeiro momento, o tiro saiu pela culatra. O motor selecionado para 2023 tornou a moto mais arisca. A YZR-M1 não virou a mais potente e nem tampouco manteve a doçura que sempre a caracterizou. Com uma moto sem qualidades de destaque, Fabio Quartararo e Franco Morbidelli pouco puderam fazer. Em vários momentos, o francês transpareceu uma imagem até de desespero.
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A segunda medida veio na mudança do line-up. Diferente de Quartararo, cujo contrato chega ao fim neste ano, Morbidelli tinha assinado apenas até 2023 e não teve o acordo renovado. A Yamaha optou por Álex Rins, que tinha se destacado com a Suzuki e encontrado abrigo na LCR Honda após a partida da marca japonesa do campeonato.
Além da experiência com motor quatro em linha — já que a Suzuki também usava essa configuração —, contou a favor do espanhol o fato de ele ter vencido com a Honda no GP das Américas do ano passado. Afinal, a crise da rival da asa dourada é igualmente grave, mas Álex deu conta não só de vencer com autoridade, mas também de se destacar ao longo de todo o fim de semana.
Soma-se a isso o fato de Rins estar infeliz onde estava. Apesar da boa relação com Lucio Cecchinello, a quem definiu como melhor chefe que já teve, o #42 era contratado diretamente pela HRC, mas não se sentia ouvido no que dizia respeito ao desenvolvimento da RC213V. Rins acabou por assinar com a Yamaha ainda no hospital, quando se recuperava de uma fratura na perna.
Mas era preciso fazer mais. A Yamaha, então, foi caçar no terreno do vizinho e fez duas boas contratações: Massimo ‘Max’ Bartolini e Marco Nicotra. Ambos funcionários da Ducati.
Bartolini é o trunfo mais expressivo. Ex-braço direito de Gigi Dall’Igna, o ‘pai’ da dominante Desmosedici atual, Max chegou para assumir o posto de diretor-técnico da Yamaha. Além de aportar conhecimento técnico — inclusive da dominante rival —, a esperança é que o italiano dê um novo ritmo à evolução da YZR-M1.
Sob o comando dos japoneses, o desenvolvimento era mais lento, graças a uma preferência por ter tudo muito bem testado e avaliado antes de entregar nas mãos dos pilotos titulares. Agora, a expectativa é justamente por afastar esse conservadorismo — expressão usada por Lin Jarvis, diretor da Yamaha — e ser mais “aventureira”.
Nicotra, por sua vez, também vem da Ducati, onde trabalhava como engenheiro de aerodinâmica na divisão de corridas. Agora, Marco assume o departamento na Yamaha, tocando uma área ainda pouco explorada pela marca.
As contratações, especialmente no campo técnico, são os grandes trunfos da Yamaha. Mas ampliar a competitividade, principalmente em um campeonato tão disputado, vai levar tempo. Como bem definiu Jarvis, é o início de uma reação.
Mas existe outro ponto que promete fazer a diferença. A Dorna, promotora do Mundial, venceu a queda de braço com as fábricas e conseguiu alterar o regulamento de concessões. Com a nova regra, Yamaha e Honda são as mais beneficiadas e, entre outras coisas, podem testar com os titulares ao longo do ano e também atualizar o motor. É uma ajuda que, se bem aproveitada, promete resultados em um tempo mais curto.
Na pré-temporada, Quartararo voltou a se queixar de falta de aderência na traseira. A questão maior é em volta lançada, o mesmo problema que dificultou consideravelmente a vida dele no ano passado.
Ainda assim, ‘El Diablo’ se mostrou mais animado com as possibilidades futuras — o que deve ter deixado a Yamaha bastante satisfeita, já que é ano de renovar contrato. O francês também exaltou a parceria com Rins, com quem disse ter conversado mais em Sepang do que nos anos todos ao lado de Morbidelli.
Juntos, Quartararo e Rins têm a tarefa de devolver o protagonismo perdido pela Yamaha. E, para isso, o novo corpo técnico promete ser de grande ajuda, ainda mais com as novas concessões. Mas é uma luta que demanda tempo.
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